sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Exemplo e atitude

UM NOVO ANO começou e, com ele, ocorreram mudanças importantes no cenário político. Foram alteradas as constituições das Assembleias Legislativas, da Câmara dos Deputados, do Senado, de governos estaduais e do governo federal. Todas elas terão uma grande importância para os próximos anos do país, mas certamente um nome estará envolvido em decisões fundamentais para o nosso futuro: Dilma.
Por não ter tido uma trajetória política tradicional, Dilma era até bem pouco tempo praticamente desconhecida da imensa maioria da população do país, o que abria espaço para dúvidas e questionamentos sobre o seu perfil e em última análise sobre a sua qualificação para ocupar o mais importante cargo do Brasil. Apesar de as urnas já a terem consagrado, vai aqui, adicionalmente, um testemunho pessoal.
Conheci a nossa presidente, ou presidenta, como ela parece preferir ser chamada, há pouco mais de dez anos, quando ainda trabalhava na Petrobras como responsável pela área de gás natural da companhia e ela ocupava a Secretaria de Gás e Energia do Rio Grande do Sul.
Tivemos inúmeras acaloradas discussões sobre a viabilidade de projetos energéticos do Estado que ela representava e algumas coisas ficaram logo claras. Apesar de ocupar uma posição política, minha interlocutora era uma técnica que dominava o assunto sobre o qual falava, vinha para as reuniões de trabalho preparada, tinha elevada autoestima e era uma incansável defensora de seus pontos de vista.
Rapidamente ela se tornou conhecida e admirada por toda a nossa equipe, que via ali um exemplo de comportamento pouco comum para pessoas que ocupam posições semelhantes.
A partir do início do ano de 2003 e por mais de três anos, passei a tê-la como minha chefe direta, já que ela presidia o conselho de administração da Petrobras Distribuidora, empresa que passei a presidir.
Obviamente, nossos contatos se intensificaram, passei a conhecê-la melhor, e alguns aspectos de sua personalidade se tornaram ainda mais claros para mim. Dilma é uma pessoa cuja franqueza chega a assustar aqueles que não a conhecem.
Com ela não existem meias verdades e o que tem que ser dito é feito de forma direta, olho no olho.
Ela é perfeccionista e uma chefe exigente que sabe cobrar. Aliás, é bom que os senhores ministros estejam preparados para longas jornadas de trabalho e permaneçam com os celulares ligados desde bem cedo e até bem tarde. Não faltarão chamadas nas horas mais improváveis para consultas e cobranças.
Outra característica marcante é o ambiente de lealdade que ela consegue desenvolver entre as pessoas de sua equipe. As discussões são abertas e participativas, mas, uma vez definido o rumo a seguir, o discurso passa a ser alinhado e uníssono. Talvez isso seja fruto do fato de ela ser uma companheira fiel que caminha lado a lado e defende as pessoas que a ajudam.
Porém, não existe espaço nem tolerância para desvios de conduta. E, para isso, ela tem moral de sobra para exigir, dado o seu comportamento extremamente ético.
Dilma é também uma grande idealista que dedicou boa parte de sua vida ao sonho de mudar o Brasil para melhor. Ela é o tipo de pessoa de cujas ideias você poderá até discordar, mas jamais deixará de reconhecer que, por trás de cada ação, estará a mais sincera vontade de acertar e de fazer o melhor para o país.
O Brasil vive hoje um momento especial em que enormes oportunidades são oferecidas, algo que a minha geração jamais vivenciou.
Mas não podemos nos iludir porque há ainda uma série de desafios a serem vencidos. Apesar dos significativos avanços tidos nos últimos tempos, ainda temos grandes deficiências nas áreas de educação e saneamento e grandes gargalos de infraestrutura. Aliás, tudo foi irretocavelmente abordado no discurso de posse da nossa presidente.
Como brasileiros, temos todos que torcer e trabalhar para que o país continue a melhorar. Porém, uma coisa para mim é certa. Não será por falta de exemplo, dedicação e atitude na nossa Presidência que isso deixará de ocorrer.
RODOLFO LANDIM, 53, engenheiro civil e de petróleo, é conselheiro da Wellstream. Trabalhou na Petrobras, onde, entre outras funções, foi diretor-gerente de exploração e produção e presidente da Petrobras Distribuidora. Escreve quinzenalmente, às sextas-feiras, nesta coluna.

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