sábado, 16 de julho de 2011

Obama, Brasil, imprensa, neoliberalismo e nova ordem mundial


“O neoliberalismo é como um vampiro a sugar o sangue de suas vítimas, além de levar ao cativeiro suas almas”. (Davis Sena Filho)
Barack Hussein Obama II, advogado de 49 anos (completa 50 anos em agosto), ex-senador da República, eleito, em 2008, o 44º presidente dos Estados Unidos da América — a Nação mais rica do mundo e a maior potência militar da história da humanidade. Esta apresentação poderia ser para qualquer homem eleito presidente nos Estados Unidos, se não fosse uma realidade, que até pouco tempo jamais pensaríamos que fosse acontecer: Barack Obama é um homem negro, em um país que há cerca de 40, 50 anos era, irremediavelmente, dividido entre raças, de forma institucional e rotineira, o que fazia da nação mais poderosa do mundo um lugar de desassossego, violência e vergonha moral e espiritual.

Lembro-me quando pequeno, na década de 1960, e adolescente e jovem, na década de 1970, que os Estados Unidos, extra-oficial e oficialmente, experimentavam uma grande convulsão social, no que concerne à conquista dos direitos civis da população negra daquela terra. Descendentes de escravos, os negros não tinham acesso, de forma plena, aos serviços públicos e ao direito de, por exemplo, estudar, como ocorria em vários municípios de estados sulistas. Concomitantemente, seus empregos eram os piores, os mais perigosos e mal pagos. Além disso, o direito de ir e vir dos negros em certos bairros das elites brancas de diversas cidades não era pleno, a não ser para trabalhar e servir a Casa Grande.
O absurdo era tanto que há pouco tempo, na década de 1970, os estados sulistas e outros, não tanto ao sul daquele país, não permitiam que os negros entrassem em certos restaurantes, não usassem o elevador social e eram ainda proibidos de sentar em bancos dianteiros dos veículos coletivos ou simplesmente não tinham autorização, ou melhor, liberdade para usar o mesmo banheiro, destinado aos brancos, por exemplo, nas rodoviárias. Era concretamente um país dividido, que, por razões econômicas, políticas e raciais foi testemunha do assassinato de duas das maiores lideranças negras até hoje existentes nos Estados Unidos, personificadas no líder dos direitos civis, Martin Luther King, e do revolucionário Malcolm X, que, radical, pregava a luta armada e, com o tempo, passou a propor o diálogo e a negociação para resolver os problemas e as condições de vida que a comunidade negra norte-americana queria discutir e modificar.
A vitória de Barack Obama é emblemática, por ele ser multirracial. Seu pai, negro, do Quênia, sua mãe, branca, do estado do Kansas, deram-lhe a possibilidade de o presidente eleito conhecer as contradições, os conflitos e os diferentes pensamentos no que é relativo à realidade estadunidense e às diferentes etnias que compõem o tecido social dos Estados Unidos. Obama, além de ser fruto de uma relação interracial, é filho de pais de forte formação universitária. Sua mãe, An Dunham, antropóloga, seu pai, Barak Obama Senior, economista, fez com que ele, desde cedo, convivesse com o mundo acadêmico. Seus pais se separaram após dois anos de convivência e sua mãe, posteriormente, casou-se com Lolo Soetoro, indonésio que ajudou a criar o 44º presidente dos Estados Unidos.
Nascido em Honolulu, no Havaí, Barack Obama morou também na Indonésia, em Jacarta. Como se vê, o presidente eleito é realmente multirracial e multicultural e por isso há uma enorme esperança, apesar das críticas ao seu governo, de esse homem ter uma maior compreensão em relação às diferenças entre as raças e principalmente entre as culturas, entre as nações, porque, na realidade, raça não existe. O que existe, e apenas isso, é a espécie humana. Obama traz, por enquanto, ainda, a esperança de diálogo, democracia e compreensão para que os países resolvam suas contradições e até mesmo suas rivalidades. Não é um político comum, por causa de suas origens, bem como de sua plataforma política.
O mundo está cansado de ficar preso, amarrado a interesses que não convêm ao desenvolvimento socioeconômico dos povos. O mundo teve de enfrentar, durante quase uma década, o unilateralismo do Governo de George Walker Bush, que não atuou conjuntamente com a comunidade internacional, no sentido de propiciar o entendimento entre as nações e dialogar e negociar as diferenças entre os governos. Bush não atendeu as resoluções da ONU e iniciou guerras, invadiu o Iraque e o Afeganistão. Além disso, o presidente republicano se recusou a assinar o Tratado de Kioto, que visa implementar e implantar ações e leis internacionais que permitam a defesa das riquezas naturais, tão caras à humanidade e à vida no planeta, como as florestas e as águas. Os diferentes biomas têm sofrido com a falta de proteção e são destruídos, em progressão geométrica, por causa do aquecimento global e do enorme índice de poluição, cujo principal poluidor da terra são os Estados Unidos, que, no decorrer da administração Bush, recusaram-se a assinar tal tratado, além de outros relativos ao meio ambiente.
Também houve outra questão muito grave, no que é relativo aos direitos humanos. Depois do atentado do dia 11 de setembro, quando o World Trade Center foi demolido por ataques sem precedentes, os Estados Unidos rasgaram todos os pactos que tratam da condição humana e seus direitos, mesmo em época de guerra. A Declaração Universal dos Direitos Humanos, elaborada após o fim da II Guerra Mundial, em 1945, foi rasgada pelo presidente estadunidense e seus principais assessores, denominados de falcões, aves consideradas de rapina. Nada é mais real, e simbólico.
Milhares de pessoas foram presas sem provas e sem acusações formalizadas. Cadeias existentes e construídas em todo planeta passaram a ser as sucursais do inferno. A ONU e grupos de direitos humanos existentes em todo planeta passaram a denunciar a existência de prisões clandestinas, onde a tortura e o assassinato são a rotina do dia-a-dia. O Governo Bush rasgou os mandamentos da civilização e a humanidade experimentou um retrocesso jamais observado após a II Guerra Mundial. Nada que surpreendesse a comunidade internacional, quando os fundamentalistas neoliberais do mercado exercem o poder e têm como fundamento o lucro e a ocupação política dos espaços geográficos e não a ética e a conduta humanitária, no que diz respeito à soberania dos povos e a oportunidade de otimizar seu desenvolvimento.
Barack Hussein Obama representa por ora, até porque seu governo não chegou ao seu fim, esperança, de forma moderada e não irreal, de termos um mundo que privilegie o diálogo e aprenda a negociar os interesses e a respeitar as diferenças econômicas e culturais de cada nação, de cada país. Foi o que ele disse na sua visita recente ao Brasil, apesar de sabermos que, acima da vontade de Obama, estão os interesses geopolíticos dos EUA. A invasão da Líbia é um exemplo. O capitalismo é o sistema hegemônico, mas tem de ser regulamentado, domado e fiscalizado, porque poderá acontecer novamente a degeneração do sistema de mercados, como ocorreu com o surgimento da crise econômica em fins de 2008 e que ainda persiste fortemente nos Estados Unidos e na Europa (Grécia, Itália, Espanha, Portugal e Irlanda, somente para ficar nesses exemplos).
Por sua vez, Obama passa a enfrentar forte oposição do Partido Republicano, que venceu as eleições legislativas de 2010 e conquistou a maioria na Câmara de Representantes, apesar de não conseguir o controle do Senado. Essa realidade foi um duro golpe para o Governo Obama, porque colocou em xeque a agenda de mudanças e reformas do presidente democrata, inclusive a reforma da saúde, promessa de campanha, programa principal de seu governo, combatido, ferozmente, pela direita estadunidense. Contudo, a invasão da Líbia (país não alinhado aos interesses dos EUA na região), por intermédio da OTAN, segue a trilha das conveniências geopolíticas dos Estados Unidos e de Israel no norte da África, que aproveitou a crise ocorrida no Egito, país aliado, para tentar derrubar o governo de Muammar Kadafi, inimigo histórico e às vezes aliado de circunstâncias.
A vitória de Barack Obama é a vitória de todos os povos que formam o povo estadunidense, apesar dos racistas e dos republicanos. A ascensão de Obama ao poder não pertence somente aos negros, até porque eles são apenas 13% da população. Portanto, chega-se à conclusão que Obama teve uma proporção muito maior dos votos da população branca do que da população negra. Como também teve maioria dos votos da população hispânica. O multirracial Obama representa a vitória do multilateralismo e não do unilateralismo entre os países e, conseqüentemente, entre as pessoas. E é o que está a ocorrer, mesmo com a existência de conflitos no norte da África e, evidentemente, no Oriente Médio e no Paquistão, além da invasão da Líbia por parte da OTAN (EUA)
A eleição de Obama representa a derrota do neoliberalismo (econômico), sistema de espoliação lançado pelo Consenso de Washington em 1989 e que quase levou à falência os países da América Latina, da Ásia e da África. O neoliberalismo de Margareth Tatcher, de Ronald Reagan e dos chicago boys de Pinochet, defendido pelos jornalistas de economia e pelos barões da grande imprensa brasileira, bem como pelos porta-vozes dos sistemas acadêmico e econômico, e posto em prática por governantes da estirpe de Fernando Henrique Cardoso, Carlos Salinas de Gortari, Alberto Fujimori e Carlos Menem, entre outros, foi derretido tal qual a um sorvete que cai no asfalto quente, como não deixa dúvida a atual crise mundial.
Todos esses mandatários foram punidos, de uma forma ou outra, com exceção do brasileiro Fernando Henrique Cardoso, que privatizou empresas estatais da grandeza da Vale do Rio Doce e do Sistema Telebras e até hoje não responde por esse questionado processo de privatização, que, conforme técnicos do Governo e das empresas privatizadas, foram vendidas a preços bem abaixo do mercado e hoje não exercem papel social, porque os preços das tarifas são altíssimos, as empresas não investem no interior do Brasil, notadamente no Norte, Centro-Oeste e no Nordeste e as remessas de lucros para o exterior chegam a ser indecentes, pois toda dinheirama, fruto do trabalho de brasileiros de diferentes gerações, vai direto para os países e os bolsos dos novos proprietários da telefonia brasileira em vez de ser investida ou realocada com o objetivo de propiciar o desenvolvimento social do nosso povo. A realidade é tão grave, que o Governo Federal tem pressionado as telefônicas, além de recriar a Telebras, para que se possa, enfim, disseminar a banda larga, rápida e com preço justo e acessível, porque a oferecida pela iniciativa privada é lenta e muito cara. Quando estatais de grande porte são alienadas, como aconteceu no Brasil e na América Latina, a capacidade de investimento de qualquer país é diminuída. É tanto dinheiro a ir para fora que parece que estamos a reviver a Derrama.
O que se provou, este fato é irremediavelmente verdadeiro, é que quando a iniciativa privada não é regulamentada e é gerida com irresponsabilidade quem tem de intervir e salvar o sistema capitalista da bancarrota é sempre, historicamente, o velho e bom Estado. Com isso, todas as teses neoliberais — exaustivamente expostas e defendidas pela imprensa burguesa e seus doutores economistas e diplomatas de plantão por quase 30 anos —, foram por água abaixo, o que fez com que muitos desses yuppies arrogantes ficassem com cara de pateta na televisão, nas salas das universidades, nos partidos políticos de direita e em fóruns empresariais tradicionais. O neoliberalismo foi um gigante com pés de barro. Estado mínimo é conversa fiada de neoliberal, que tem o propósito de combater e desvalorizar os estados nacionais, a fim de sempre obter mais e maiores lucros e manter o status quo das pessoas que habitam o pico da pirâmide social intacto.
Um exemplo fidedigno para o que eu afirmo se traduz no alerta (na verdade, uma chamada às falas) da China aos Estados Unidos. Como se sabe, o gigante oriental é o maior e o mais importante investidor em títulos do governo estadunidense. O partido direitista de lá, que é o Republicano, está a impedir que o presidente Barack Obama eleve o teto de endividamento do governo, porque eles querem como contrapartida cortar os programas destinados às pessoas carentes. Nada, contudo, a surpreender, porque os Estados Unidos são a meca do neoliberalismo, que arrasou as economias dos países emergentes e do terceiro mundo durante décadas e agora se volta contra o próprio país onde esse modelo econômico e financeiro de espoliação foi pensado e imposto, terrivelmente, ao mundo inteiro. O neoliberalismo é como um vampiro a sugar o sangue de suas vítimas, além de levar ao cativeiro suas almas.
A grande imprensa nos EUA é aliada dos republicanos, exatamente como no Brasil. A imprensa brasileira é aliada e cúmplice também dos republicanos e neoliberais daqui: o PSDB e o DEM, além de seus apêndices, o PV e o PPS. A imprensa tupiniquim repercute e defende, incessantemente, os dogmas e os propósitos colocados em prática no auge do neoliberalismo. Mesmo com o fim desse processo, a imprensa e as mídias brasileiras continuam a defender o indefensável, a propor o que já foi derrotado e comprovadamente prejudical à pessoa humana e ao meio ambiente. Os nossos republicanos, como os de lá, são, irremediavelmente, viciados, porque tomam doses cavalares de insensatez, perversidade e egoísmo, diretamente na veia, tal qual a um dependente de heroína. Nunca vi tanto descalabro.
Obama tenta, mesmo a sofrer fortes pressões, elevar o teto de endividamento. Apesar de ter feito enormes concessões à direita, como cortar vários programas sociais, o presidente negro afirmou que não deixará de elevar os impostos dos ricos, grupo social que praticamente está isento dessa responsabilidade com o país e seu povo, porque o presidente da guerra, George Walker Bush, com o apoio de Alan Greenspan (presidente do BC), deu a faca e o queijo para os ricaços se locupletarem, enquanto aos pobres não permitiu que eles tivessem acesso a um sistema de saúde público e universal, como existe no Brasil, por intermédio do SUS, que bem ou mal atende o povo brasileiro, além de encher os hospitais e clínicas de saúde particulares de dinheiro, por meio de convênios.
Nos EUA nem isso existe. E é por causa disso que Obama tem enfrentado uma verdadeira guerra para implementar um sistema de sáude público naquele país do norte das Américas. Enquanto isso, a imprensa brasileira hegemônica se cala sobre esses fatos. E quando os repercute, dissemina a notícia de forma dissimulada quando não manipulada. Se o leitor quiser se informar de forma mais isenta e verdadeira sobre o Brasil e o mundo, o melhor a fazer é ler os jornais estrangeiros, mesmo os conservadores, como o Financial Times ou o Le Monde ou o Washington Post. Apesar do ranço, a pilhéria e a falta de respeito com a inteligência do leitor ainda não chegaram à dimensão que a imprensa comercial e privada daqui se comporta e se conduz.
Se o presidente Barack Obama não conseguir elevar o teto de endividamento dos EUA, a partir de agosto os títulos do Tesouro não serão honrados, porque aquele país começará a dar calotee países como a China (que está a dar sonoras broncas nos norte-americanos) e o Brasil arcarão com altos prejuízos, porque a direita estadunidense quer inviabilizar o governo democrata. Como se percebe, as elites e seus partidos e suas mídias e seus interesses econômicos se entrelaçam no mundo inteiro. E, mesmo a termos essa realidade, jornalistas e especialistas de prateleira da Globo News, da CBN, da Veja e da Folha de S. Paulo e de outros meios impressos, radiofônicos e televisivos continuam a bater na mesma tecla: a de que o neoliberalismo é muito bom, que o estado tem de ser mínimo e que os investimentos públicos tem de ser menores. Nunca vi e ouvi tanta má-fé e insensatez. E o pior é que parte da classe média, branca e universitária, ainda acredita nessa história mal contada e manipulada.
O fim da era Bush e a ascensão de Barack Obama representa a busca de um novo modelo econômico para o capitalismo, bem como mudanças nas relações entre os países e até mesmo entre as pessoas. O neoliberalismo, como sistema de espoliação e de exploração mercantilista, tornou-se trágico para a humanidade, que entrou em um processo de violência e decadência moral, no que concerne à procura, incessante, da satisfação dos desejos de consumo, da obsessão pelo acúmulo de riquezas, pela desvalorização de valores pétreos, representados pelo estudo, pelo trabalho e pelo respeito à lei. As sociedades nesses anos se tornaram mais injustas, menos igualitárias e a democracia passou a ser algo como um sonho de consumo em vez de ser um modo real de viver.
A democracia representativa ocidental ainda não conseguiu resolver problemas como as guerras, assim como distribuir riqueza e renda, além de, por incrível que se pareça, eliminar a fome em suas sociedades. Acredito que a democracia tem de ser popular, ou seja, que as decisões sobre determinado assunto sejam tomadas diretamente pelos povos junto a seus governos. A democracia representativa é indireta, enquanto a popular é direta. A maioria dos países ocidentais tem como sistema político-eleitoral a democracia representativa, que não resolveu e não resolve problemas básicos, como a fome e a miséria, porque ela não é real e sim ornamental, conquanto controlada pelas oligarquias urbanas e rurais.
A América Latina tem experimentado mudanças de ares. Em vários países os governos têm rotineiramente consultado suas populações no que é relativo a um sem-número de assuntos, por intermédio de propostas que são votadas em referendos. Na democracia popular, as pessoas, os cidadãos são ouvidos e decidem sobre seus interesses. A democracia representativa é uma fraude, porque propicia exclusão econômica e social dos povos que vivem sob esse regime político. Esse tipo de democracia acontece em países importantes como o Brasil e os Estados Unidos. O primeiro é uma pontência regional e o segundo, potência mundial.
Nos Estados Unidos, a democracia é indireta. O povo vota, mas quem decide são os delegados eleitos, que formam um colégio eleitoral, para, por exemplo, escolher o presidente da república. Eleições democráticas tão indiretas como essas no mundo ocidental existem em poucos países, mesmo assim a imprensa burguesa, especificamente a brasileira, de forma servil e aduladora, canta loas e boas à democracia estadunidense, que é eleitoralmente menos ampla do que a brasileira que, apesar de representativa e não popular, sem sombra de dúvida, é mais democrática e, por conseguinte, justa.
De qualquer forma se observa, na América Latina, a efetivação da democracia popular. Esse alvissareiro fato representa a recuperação da soberania dos povos latinos, que tiveram suas liberdades democráticas usurpadas por séculos, inclusive com a intromissão indevida de sucessivos governos estadunidenses, com a cumplicidade das oligarquias latinas, que nunca, em hipótese alguma, se importaram com o desenvolvimento social dos povos de quem, querendo ou não, são integrantes. A democracia representativa, ao contrário da popular, usurpa a autonomia e a liberdade de decisão dos povos em que nela estão inseridos em um contexto de representatividade que, na verdade, defende os interesses econômicos de uma minoria privilegiada, que quer viver eternamente como paxás ou nababos.
Barack Obama, como democrata, herdeiro de uma multilaridade que tem como base sua origem multirracial, e ator principal da política internacional, terá de, indubitavelmente, dialogar com o oriente e com o ocidente e negociar, politicamente, os interesses de cada país, principalmente aqueles que são considerados inimigos do Tio Sam, casos de Iran, Iraque, Coréia do Norte, Síria, Líbia e Afeganistão, bem como os que continuam ainda a ser potências militares, a exemplo da Rússia, além das potências emergentes, como a Índia, a China, a África do Sul e o Brasil, país da América do Sul, sétima economia do mundo, cujo Produto Interno Bruto (PIB), segundo o IBGE, foi de R$ 3,675 trilhões em 2010, ano que também a economia brasileira cresceu 7,5%, índice altíssimo, que surpreendeu os “especialistas” de prateleira da Globo News, e que coloca o Brasil entre os países mais poderosos do mundo, apesar de a imprensa hegemônica e ideológica fingir que nada está a acontecer para melhor, nos aspectos econômico e social, no decorrer desses últimos oito anos.
A comunidade internacional sabe que o eixo de poder mudou, por causa da crise do neoliberalismo de 2008, além da ascensão econômica e política dos Brics e do G-20. Barack Obama sabe disso. Os países e seus governos e sociedades não querem voltar à Idade Média, como ocorreu quando os fundamentalistas cristãos e do mercado chegaram ao poder, por intermédio da presidência do beligerante George Walker Bush, que se autodenominou o “presidente da guerra”. O que se observa, no momento, é que o mundo quer uma nova realidade, que, no meu entender, tem de se basear na cooperação entre os povos e na luta por um planeta mais seguro e que combata epidemias como a Aids e a fome, bem como efetivar o isolamento de governantes oportunistas e irresponsáveis que têm como princípios governamentais ou administrativos atender os interesses das indústrias bélica e financeira para fazer desse mundo um lugar ótimo, só que para poucos privilegiados.
Quando foi imposto ao mundo, em 1989, o sistema neoliberal, inclusive, se necessário, com o uso da força, a imprensa privada e comercial, que não tem pátria e nem cultura e muito menos lealdade com seus povos, festejou, irresponsavelmente, o que foi estabelecido como nova ordem mundial. O neoliberalismo era a solução e o pai dele no Brasil um político de origem marxista, que veio da esquerda, obviamente, mas que negociou com a direita partidária e empresarial sua candidatura a presidente da República. Fernando Henrique Cardoso foi presidente da República por oito anos, e, nesse intervalo de tempo, foi ao Fundo Monetário Nacional (FMI) por três vezes. Vendeu as estatais e não investiu no desenvolvimento social e humano do povo brasileiro, porque homens como FHC administram números e não pessoas. Esse fato é essencial para haver compreensão do que é humano e social e do que não o é.
Políticos comandam técnicos. Não podem os técnicos a ficar a comandar os políticos. Por quê? Porque políticos tratam de gente, cuidam de gente e administram o comando do que vai ser feito com o dinheiro público, que pertence a todos e não a poucos aquinhoados ou “sortudos”. O neoliberalismo de Margareth Tatcher, levado a cabo, de forma fundamentalista, por técnicos idiotizados e colonizados por Wall Street, que há pouco tempo derreteu, não atendeu às demandas humanas. E o homem é a essência da existência. Ele é fundamental. Sem as pessoas, não há governos. Não há, inclusive, exploração financeira. Sem as pessoas não há economia.
Um dos motivos para o fracasso do neoliberalismo é que esse sistema não enxerga a pessoa humana como referência a ser preservada, cuidada e respeitada. Afinal, a vida é passageira. O político neoliberal é um equivocado, direito este que ele não tem. Ou é “pura” má-fé. Os técnicos, como se diz na gíria, podem até viajar na maionese, mas o político tem de ser cônscio de suas responsabilidades e arbitrar os projetos e programas que beneficiam as populações, mesmo se tal técnico pensar diferente, o que, na verdade, não importa, quando o político é leal aos cidadãos, até porque quem manda é ele, pois, do contrário, de um jeito ou outro, um dia ele também fracassará como político e terá de encerrar sua carreira, como sempre aconteceu e acontecerá mesmo se demorar. Nas últimas eleições, vários caciques foram aposentados pelas urnas. Lembra-se, caro leitor?
Com o derretimento de Wall Street, com forte repercussão na Europa, Barack Obama terá de dialogar e negociar uma nova ordem mundial com atores antigos e novos. Certamente, creio eu, que governos que se dizem democráticos não querem a continuação da Idade Média, de perfil cristão fundamentalista, de Bush e seus falcões. Agora nos resta esperar e ver como o presidente Obama irá proceder politicamente em relação à comunidade internacional, já que ele tem problemas políticos sérios e concretos no que tange à tentativa de implementar seu programa de governo, fortemente combatido pelos republicanos e pelos empresários e religiosos conservadores protestantes e pentecostais, que deram origem ao movimento Tea Party, filiado ao Partido Republicano e considerado como um movimento de extrema direita. Falta apenas, para ficar mais transparente, o capuz em forma de cone da Ku Klux Klan — a KKK ou Klan. No Brasil, também temos nossas Klans, tão racistas e violentas como a norte-americana. Porém, de forma cínica, muito mais dissimuladas.
O unilateralismo de Bush não tem mais espaço. Os estadunidenses não estão sozinhos no mundo e o mundo não foi feito somente para eles, como pensa a nossa elite colonizada e separatista. Ele pertence a todos, como provam a Rússia, a China, a Índia, a África do Sul, os europeus ricos e nada confiáveis, o Japão e o Brasil, que enfim luta por seus direitos na ONU, com o propósito de ocupar uma cadeira permanente em seu Conselho de Segurança. O Brasil também se faz fortemente presente em outros fóruns importantes, pois exerce visível liderança regional, além de efetivar uma diplomacia independente, não-alinhada e que busca, sobretudo, ser protagonista e não mais coadjuvante apesar do não reconhecimento da direita empresarial e partidária, que dissemina, por intermédio da mídia comercial e privada, preconceito ideológico e de classe, além de mostrar sua mesquinhez, incrustados nos corações e nas mentes daqueles que defendem, sem ao menos questionar, os interesses da imprensa burguesa, a imprensa empresarial, que se transformou há muito tempo, para a infelicidade do Brasil, em partido político conservador — o Partido da Imprensa. É isso aí.
Davis Sena Filho

Um comentário:

HUGO CEZAR PEREIRA disse...

Qual a nação que derrubou as torres gêmeas ? - Nenhuma ! Então, por quê George Bush declarou ato de guerra ? Para que as companhias pagassem o seguro, porque se fosse apenas ato de terrorismo - todos ficariam a ver navios. Por quê Obama foi eleito ? Para tirar os Estados Unidos do buraco ! Obama tem um biotipo que se encaixa nas estratégias norte-americanas. Um perfil de democrata conciliador e está usando todo o seu jogo de cintura para aliviar as trapalhadas dos Bush. A retirada das tropas do Afeganistão não é novidade! A União Soviética também deu pra trás. As duas guerras no Iraque e no Afeganistão foram mal planejadas. Consumiram bilhões de dólares e desta vez, não tem os Emirados para pagar a conta, quando o Bush pai despejou na ""Tempestade do Deserto"" todo o arsenal obsoleto dos Estados Unidos - e reativou todo o seu parque industrial na construção de armamento mais moderno. Obama está fazendo o que pode com o seu esforço e carisma. Não há mais bobo neste mundo DESTE MATO NÃO SAI COELHO !!!