sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Marina Silva: Tempo da travessia

Marina Silva - Folha de São Paulo - Opinião.
Faz um ano que fomos às urnas escolher presidente, governadores, senadores e deputados. Ainda hoje repercute o patamar de votação -quase 20 milhões de votos, levando as eleições para o segundo turno- que eu e o empresário ambientalista Guilherme Leal conseguimos, representando um projeto de desenvolvimento sustentável para o país.

Venho, assim, com justa razão, suscitando análises, criticas e avaliações quanto a possíveis desdobramentos de meu papel no intrincado cenário de nossa realidade política.
Em recente palestra no Rio de Janeiro, encontrei o deputado do PV francês Daniel Cohn-Bendit. Ele referiu-se à baixa expectativa, no passado, de que ocorressem fatos históricos que levaram ao fim estruturas e sistemas que pareciam inamovíveis, como a queda do Muro de Berlim, o fim da Guerra Fria ou a existência da Comunidade Europeia. E, no presente, quem imaginaria a queda de algumas ditaduras no mundo árabe, onde o Egito é o exemplo mais eloquente?
Dialogando com Daniel, permiti-me ser mais uma analista de meu próprio caso e lembrei que, até meados de 2008, ninguém, nem eu mesma, seria capaz de preconizar o que aconteceria nas eleições de 2010, ou seja, uma candidatura a presidente, com plataforma de sustentabilidade socioambiental, surpreender num cenário político em que o script eleitoral havia sido minuciosamente ensaiado para ser apenas uma espécie de plebiscito entre as principais forças políticas, PT e PSDB, que passaram a ocupar a cena de nossa crônica e empobrecedora polarização partidária.
Sem pretensão de sair de meu incômodo lugar de objeto de análise para o talvez menos incômodo lugar de analista, ouso dizer aos que supõem prever os fados da política só com base em correlações de dados pretéritos ou em tendências que sejam bem-vindos à era do imponderável, do imprevisível. Quem poderia afirmar, há 10 ou 15 anos, que os países ricos perderiam sua aura de inexpugnáveis e teriam que lidar abertamente com seus erros, tendo que enquadrar-se nas fórmulas e receitas de "sucesso" que nos ensinaram e prescreveram?
Diante de tantas incertezas dos outros e minhas, foi em Condeúba (BA) que encontrei na poesia de Fernando Pessoa uma excelente metáfora para minhas buscas de respostas.
Estava lá para o encerramento da Campanha da Fraternidade e, graças ao refinamento do padre Juliano, conheci estes versos de Pessoa: "Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já têm a forma do nosso corpo, e esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia: e, se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos".
MARINA SILVA escreve às sextas-feiras nesta coluna.
Enviado por Pedro Ivo Batista - Skype: pedroivo.terrazul - E-mail: batista.pedroivo@gmail.com

Um comentário:

Anônimo disse...

esta mulher é uma grande auxiliar de serra.com seus mais de l9 milhoes de votos evitou que dilma fosse eleita no primeiro turno. no futuro, ao que pARECE, ELA PRETENDE SER AINDA MAIS ÚTIL AO PPS,DEMOS E PSDB.