Diário do Nordeste: A tropa federal foi mobilizada para substituir policiais militares que iniciaram uma paralisação na RMF.
Uma tropa de 350 homens da Força Nacional de Segurança (FNS) será mobilizada para garantir a festa de Réveillon em Fortaleza, em decorrência de um movimento deflagrado, na última quinta-feira, por policiais e bombeiros militares estaduais e que pode ter a adesão da Guarda Municipal de Fortaleza. Os integrantes da FNS estavam aquartelados em Brasília e foram enviados ao Ceará por determinação do Ministério da Justiça a pedido do governador do Estado, Cid Gomes.
Junte-se ao efetivo da FNS, cerca de dois mil soldados do Exército, das unidades do 23º Batalhão de Caçadores, Companhia de Guarda e do próprio Quartel da Décima Região Militar estão de prontidão caso seja necessário o emprego da tropa das Forças Armadas para assegurar a segurança da população.
Força
O pedido de intervenção da Força Nacional de Segurança em Fortaleza já estava nos planos do governador Cid Gomes há, pelo menos, duas semanas, diante da possibilidade de uma paralisação de parte do efetivo da PM e do Corpo de Bombeiros.
E foi o que aconteceu. Na noite de quinta-feira passada, cerca de 600 PMs e BMs reuniram-se em assembleia no Ginásio Poliesportivo da Parangaba e resolveram deflagrar o movimento de paralisação. A princípio, os manifestantes decidiram que iriam permanecer acampados no próprio ginásio. Mas, já quase no fim da noite, partiram para uma ação desafiadora aos organismos da Segurança Pública estadual, invadiram o quartel da 6ª Companhia do 5º BPM (Antônio Bezerra) usando até crianças de colo como ´escudo humano´ e passaram a esvaziar os pneus das viaturas da PM, principalmente as das patrulhas do Ronda do Quarteirão que chegavam ao Quartel para a rendição (troca de turno).
No começo da madrugada a situação se acalmou, mas, quando o dia amanheceu, integrantes do movimento, utilizando motocicletas, passaram a atacar as patrulhas do Ronda que ainda estavam de serviço e esvaziaram os pneus. Muitas viaturas ficaram paradas na via pública até que fossem rebocadas.
Em frente ao Quartel da 6ªCia/5ºBPM a situação permaneceu tensa durante todo o dia e, no fim da tarde, dezenas de viaturas estavam estacionadas nas ruas próximas, todas sem condições de rodar. O governo, então, acionou a FNS.
Quartel invadido por PMs, mulheres e crianças
Eram 22 horas de quinta-feira. Policiais militares que iriam cumprir o turno C (das 22 às 6 horas) do Ronda do Quarteirão do Núcleo de Policiamento Comunitário (NPC) da Zona Oeste de Fortaleza, chegavam ao Quartel da 6ª Companhia do 5º BPM (Antônio Bezerra).
De repente, foram surpreendidos com a chegada de dezenas de manifestantes usando camisetas vermelhas, capacetes, capuzes, balaclavas, lenços e até máscaras carnavalescas. Protestando por melhores salários e denunciando a falta de diálogo do governo com a categoria, os PMs e bombeiros que decidiram cruzar os braços invadiram a unidade militar. Junto com eles, muitas mulheres, adolescentes e até crianças pequenas, alguns de colo. As cenas seguintes foram de embate entre os manifestantes e os oficiais que tentavam impedir a invasão ao quartel.
Pneus furados
Em vão, o comandante da companhia, major Farias, tentava convencer os manifestantes a deixar o interior da unidade policial. Houve discussão, xingamentos e empurrões. O clima foi ficando cada vez mais tenso à medida em que viaturas chegavam para a troca de turno dos policiais do Ronda e acabavam tendo seus pneus esvaziados. A reportagem flagrou até crianças realizando tal prática.
Mais tensão ocorreu quando chegou ao Quartel o supervisor do Policiamento da Capital, tenente-coronel Wilamar, oficial responsável por coordenar todo o trabalho da Polícia Militar na Grande Fortaleza. Naquele momento ele estava investido da função de chefiar a operacionalidade da corporação e, portanto, representava o Comando. Não teve jeito. A viatura do CPC também foi ´baixada´, que no linguajar policial significa ser tirada de circulação.
As mulheres dos policiais militares que paralisaram as atividades eram as mais exaltadas. Denunciavam que seus maridos, além de receber baixos salários, sofriam perseguições e estavam sendo ´retaliados´ por terem se engajado no movimento.
Por determinação do Comando-Geral, unidades do Batalhão de Polícia de Choque chegaram a ser enviadas ao local, mas, para evitar um confronto com os manifestantes e seus familiares, que poderia produzir resultados violentos, a cúpula da Segurança Pública decidiu retirar a tropa de Choque daquela área.
Ainda durante a madrugada, a Reportagem manteve contato com o secretário da Segurança, coronel Francisco José Bezerra, e este informou que foi constatada a presença de muitos manifestantes armados no protesto na sede da 6ªCia/5ºBPM.
Paulatinamente, durante a madrugada, boatos sobre o nível de adesão à paralisação se espalharam, mas somente pela manhã engrossou a fila dos PMs e bombeiros que decidiram entrar no movimento. Com tantas viaturas paradas nas ruas, a Coordenadoria Integrada de Operações de Segurança (Ciops), passou a priorizar o atendimento às ocorrências mais graves.
SAIBA MAIS
A mobilização da Força Nacional de Segurança e do Exército nos Estados só pode ocorrer com a permissão do Governo Federal. Para isso, os governadores têm que encaminhar o pedido diretamente à Presidência da República. Depois de uma análise em Brasília, e a aprovação do pedido, a tropa, então, é deslocada para o Estado onde a Segurança Pública está em perigo. Na manhã de hoje (31), uma edição extraordinária do Diário Oficial da União publicará a autorização dada pela presidenta Dilma Roussef para que as Forças Armadas (Exército) atuem, se necessário, nas ruas de Fortaleza, sua região metropolitana e no Interior. Até a noite passada, a Assessoria da Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) confirmava apenas a ação da FNS para garantir a realização da festa do Réveillon na Capital cearense. Contudo, a tropa do Exército permanece de prontidão, no Quartel do 23º Batalhão de Caçadores (23ºBC), preparada para pronto emprego.
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