quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Brasil pode obter maior nota de classificação

Expectativa do governo brasileiro é que agências elevem o País ainda este ano para o grupo 'A', onde estão poucas nações 

Adriana Fernandes e Ricardo Leopoldo - O Estado de S.Paulo

O governo espera nova alta da nota do Brasil pelas agências de classificação de risco ao longo de 2012. A reação do mercado ao corte de R$ 55 bilhões do Orçamento deste ano deve reforçar, na análise de integrantes da equipe econômica, as condições para a melhora da nota brasileira.

Assim que ficar mais clara a evolução das contas públicas, nos próximos meses, na direção do cumprimento da meta fiscal, o País se credenciará para a melhora da sua nota, avalia o Ministério da Fazenda.
As boas condições da economia brasileira, que têm atraído volumes recordes de investimentos estrangeiros, e a maior diferenciação do País diante da crise internacional alimentam a expectativa do upgrade. O mercado, que costuma antecipar os movimentos das agências de risco, já começou a 'precificar' a melhora da nota, segundo um integrante da equipe econômica.
Esse quadro ficou mais evidente após o Tesouro Nacional conseguir vender no mercado externo, em janeiro, bônus com vencimento em 10 anos e a taxa mais baixa da história, abrindo portas para uma sequência de captações de empresas nacionais.


Embora tenha recebido o grau de investimento, o Brasil ainda tem de subir dois degraus para entrar no grupo de países com classificação 'A', a mais alta e que tem subdivisões. Há quem aposte no governo que o Brasil conseguirá saltar os dois degraus mais rápido do que se imagina. Um banco americano chegou a apontar em relatórios internos que isso ocorrerá em 2013. Para a dívida interna, o Brasil já está no primeiro patamar do nível 'A'.
No último road show europeu do BEST - iniciativa de entidades do mercado financeiro e do governo para "vender" o mercado de capitais brasileiros -, a procura dos investidores por informações do País aumentou substancialmente. Para o presidente do BRAIN (Brasil Investimentos & Negócios), Paulo Oliveira, a precificação de um novo upgrade brasileiro já está ocorrendo.
As agências de rating manifestam avaliação positiva sobre as perspectivas econômicas do Brasil para os próximos três anos, mas mostram cautela sobre possibilidades de avanço da nota do País para 'A' no médio prazo.
Para o diretor de rating soberano e responsável pelas avaliações sobre o Brasil da Standard & Poor's, Sebastian Briozzo, "é boa" a combinação de política econômica do governo, com o foco de gerar superávit primário cheio para permitir a continuidade da queda da Selic. Para ele, mais importante que um número específico do superávit é ter medidas que garantam o compromisso do governo de conter despesas e reduzir o descompasso entre demanda e oferta.
Assim, o maior equilíbrio adicionaria menor pressão sobre a inflação e daria condições para o prosseguimento da queda da Selic para patamares mais próximos de níveis internacionais, inclusive de outros emergentes.
Para Mauro Leos, vice-presidente da agência de classificação de risco Moody's, a confirmação da evolução positiva das contas públicas no primeiro semestre aliada a uma inflação sob controle e a manutenção de bom patamar de crescimento do PIB podem levar a Moody's a reavaliar se concede uma elevação para a nota do País este ano. "Se for confirmado esse ambiente favorável para a economia do Brasil, que continuaria forte apesar da crise internacional, em algum momento do segundo semestre pode ser anunciado que a perspectiva positiva soberana poderia entrar em processo de revisão".
Restrição
Para a chefe de análise soberana para a América Latina da Fitch Ratings, Shelly Shetty, uma das restrições para que o País receba nota melhor é o peso da dívida pública bruta, maior do que em parte dos emergentes e fechou 2011 em 54,3% do PIB, ante 53,4% de 2010.
Segundo Shelly, "será duro" para o Brasil ingressar no clube das nações com nota 'A' até o fim do governo Dilma Rousseff, pois há questões estruturais que precisam evoluir, como o aumento da renda per capita e a melhora da posição no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH).