quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Plano de ajuda à Grécia: tudo falso

Gráficos de Olivier Berruyer - les-crises.fr
As cimeiras europeias têm tido apenas um objetivo: substituir os credores privados da Grécia

por credores públicos, para que os primeiros suportem um mínimo de perdas. E que, in fine,
seja o contribuinte quem suporta as perdas. Artigo de Olivier Berruyer publicado em les-crises.
Gráficos de Olivier Berruyer - les-crises.fr
Nota sobre a detenção da dívida grega
Proponho-vos este gráfico atualizado.
Assim, sobre os 355 milhares de milhões de euros da dívida grega:
- 155 mil milhões de euros são detidos pelo “setor público internacional”, e não são “cortados”;
- 200 mil milhões de euros são detidos por investidores privados.

Os governos europeus pediram (com insistência...) ao setor privado que renunciasse em 53,5% dos seus créditos, em troca de novas ações a longo prazo para os 46,5% restantes, com uma parte de garantia europeia. A dívida é portanto aliviada de 107 mil milhões de euros (53,5% x 200). De facto, estas novas obrigações terão uma taxa baixa, o que equivale no final a uma perda de cerca de 70% para os credores privados. Desta vez, é um verdadeiro balão de oxigénio para a Grécia. Mas, isto seria assim se fosse um plano “de ajuda”...
Na verdade...
De facto, 80 mil milhões de dólares estão nas mãos do setor público grego e dos bancos gregos. Uma perda destas derrubá-los-ia de imediato, pelo que a Europa vai emprestar cerca de 50 mil milhões de euros à Grécia para que os recapitalize – por conseguinte, substitui-se 43 mil milhões de dívida anulada por... 43 mil milhões de nova dívida – obrigado por isso! Já só restam 64 mil milhões de euros e não 107 mil milhões de euros (o que já está bem...)
Mas isto não acaba aqui. Isto só é verdadeiro na hipótese de todos os atores aceitar em proceder à troca – e portanto aceitarem a perda. Ora, uma boa parte dos fundos de investimento não aceitam – tanto mais que compraram voluntariamente dívida “cortada” para recusar a troca e embolsar um reembolso integral.
Sem cláusula de ação coletiva (que os forçaria a aceitar) estimamos que dois terços recusarão, o que resulta em 24 mil milhões de euros de economias a menos. A operação no final é apenas de -40 mil milhões para a Grécia. Muito bem, mas muito longe das necessidades reais deste país perdido... Isto representa por exemplo 5 a 6 trimestres de défice...
Para chegar a isto, nós, contribuintes europeus, já procedemos a um plano de ajuda de 110 mil milhões de euros em 2010, emprestámos portanto 43 mil milhões de euros a curto prazo e estamos empenhados a emprestar ainda 87 mil milhões de euros nos próximos três anos (87+43=130 mil milhões de euros de que se fala), para que a Grécia possa reembolsar as próximas prestações.
No final:
- o contribuinte público terá apoiado a Grécia com 130+110=240 mil milhões de euros. MAS isso não é DE FORMA ALGUMA uma “ajuda”, são empréstimos com que a Grécia deverá reembolsar a União Europeia e que esta utilizará para reembolsar os credores privados;
- os investidores privados terão perdido nos 40 mil milhões de euros, mas beneficiam de
uma garantia pública fora de balanço sobre o saldo.
Assim, todas estas cimeiras terão tido apenas um objetivo: substituir os credores privados da Grécia por credores públicos, para que os primeiros suportem um mínimo de perdas.
E que, in fine, seja o contribuinte quem suporta as perdas.
Além disso, se nós tivéssemos verdadeiramente “ajudado” e “salvado” a Grécia nestas proporções, não acham que Angela Merkel seria festejada por todo o lado em Atenas?
Esta operação vê-se claramente nestas estimativas:
Exceto que neste caso, há o forte risco de o credor obrigacionista dos países da
União Europeia ser quem os suporta – o contribuinte europeu não poderá financiar
todas as dívidas dos países da UE...
De facto, a Grécia não poderá reembolsar, afundando-se na depressão, como iremos ver...
Artigo de Olivier Berruyer1publicado em les-crises.fr, que analisou neste artigo
a posse da dívida grega. Tradução de Carlos Santos para esquerda.net
1 Atuário, diplomado pelo Instituto de Ciência e de Seguros e pela EM-Lyon, membro do Conselho de administração do Instituto francês dos atuários

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