quinta-feira, 27 de março de 2014

Hoje Todo Mundo Submete-se a Faca

Por Lucas Oliveira - editor do Blog Controle Remoto e colaborador do Blog da Dilma
“Maria, a estrela da novela, passou por uma mega cirurgia plástica. Buscando ficar mais linda, a atriz resolveu fazer uma lipoaspiração e aumentou o tamanho da prótese de silicone nos seios. Esta não é a primeira vez que ela se submete a um procedimento cirúrgico, anteriormente já tinha colocado silicone nos seios e no bumbum. Ela pensa em fazer outras plásticas com o tempo para corrigir algo que não goste em seu corpo, para poder ficar sempre bonita para seus fãs. O Brasil é o segundo no rank dos países que mais realizam cirurgias, perdendo somente para os EUA.”
- Extraído de: “Fofocas Imaginárias”
Quando pensei em escrever sobre a temática, não sabia que estava acontecendo um rebuliço por causa da venta de uma funkeira, mas sim pelo motivo de que “Hoje Todo Mundo… Submeti-se a Faca.” Em uma coluna anterior (Hoje Todo Mundo Faz Academia), falei sobre a imagem e a ditadura da beleza. É incrível como nossa sociedade cultiva e impõem determinados padrões de beleza para os sujeitos que a compõe. Porém, essa idealização corporal é novidade e exclusividade de nossa civilização atual? Claro que não! Basta observarmos as evidencias históricas, esculturas e pinturas, as quais retratam as variações e a busca pela beleza.
O Homem sempre foi inconformado com sua situação momentânea e essa característica é a chave mestra que proporcionou os avanços, as conquistas e muitas glórias para humanidade. Contudo essa insatisfação também tem seu lado negativo, que quando não domada pode levar ao fracasso e sua destruição. A imposição de padrões de beleza faz com que muitas pessoas olhem para si, e percebam que não se enquadram dentro desses padrões de boniteza, elas passam a se sentirem mal, feias, incompletas e até se odiar. Nesse momento a vontade de mudar, a insatisfação, toma conta de sua mente levando muitos a recorrerem a métodos doentios.
A Cirurgia Plástica é um fantástico segmento da medicina que inicialmente foi desenvolvida para reparar deformidades ocasionadas por lesões ou defeitos congênitos e com o tempo passou a ser vista como auxiliar ou principal ferramenta para conquistar o estágio máximo de beleza. Hoje a busca pelas intervenções cirúrgicas visando aprimorar a aparência está no topo da Lista de desejos de muitas pessoas. Todos recorrem a essa ferramenta, desde ricos famosos a trabalhadores anônimos, de velhos imaturos a adolescentes em formação. Essa prática se tornou uma febre doentia (palavra que adoro escrever na coluna). E quem lucra com isso? Olhe para quantidade de médicos e clínicas que surgiram nessa área, e para lascar até os menos abastados uma cambada de falsos médico e charlatões, está prontinha para sugar sua gordura, seu dinheiro e se possível sua vida.
O grande vilão e propulsor dessa ideologia de recorrer às plásticas são os meios de comunicação e suas marionetes humanas, chamados de superstars ou famosos. É patético ver esses “famosos” brincarem com seus corpos e suas vidas, com um único e fútil objetivo: se manter em destaque nas vitrines da comunicação (TV, revista e sites). Até ai “tudo bem”, o problema está quando a população compra esse produto e busca de todas as formas se submeter ao bisturi do cirurgião. Muitos vendem seus bens, ou deixam de investir em algo para gastar na plástica, outros fazem até financiamento, como se estivesse comprando um carro, pagando inúmeras parcelas e com juros. Por serem procedimentos de alto custo, muitos procuram “açougueiros” para encherem seus corpos de silicone e outros materiais estranhos. O resultado é de mulheres que entram na clínica com saúde perfeita e saem delas no carro do IML.
As pessoas parecem que não entenderam o grau do perigo ao qual estão se submetendo, vivem em uma ilusão de ter um corpo similar ao das atrizes desmioladas de Hollywood, ou de algum diva retardada da música. Muitas mulheres fazem lipoaspiração como se estivesse trocando de roupa, outras colocam materiais estranhos dentro do corpo com se fosse algo normal, mas não entendem que até um transplante de órgão pode ser recusado pelo organismo. Todos estes procedimentos são sérios e colocam sempre a vida do paciente em risco, afinal é um cirurgia. Será que vale brincar com a vida por um par de peito falso? Ou um bunda falsa? Será que é certo retirar algumas costelas para ficar com a cintura mais afilada? Eu duvido muito, mas existem pessoas que acreditam nisso e contribuem para manter a mulher como objeto de fantasia dos homens pervertidos e machistas.
Infelizmente essa imposição de beleza não vai acabar, só tende a crescer. Devemos parar de viver só de aparência, tanto a física com a de atitudes. Parece clichê, mas é a verdade: devemos ser mais nós mesmo, aceitar que temos falhas e procurar saná-las, mas sempre lembrando que temos limites. Mudar um nariz ou outra parte do teu corpo não vai lhe tornar mais bonito para seu semelhante, pois a feiura está dentro de você (mente) e duvido que uma cirurgia estética possa corrigir essa falha.

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