quinta-feira, 27 de março de 2014

Jornalistas espanhóis apostam na web para fugir do desemprego

Por Carlos Castilho - Observatório da Imprensa:
Nos últimos dois anos surgiram na Espanha cerca de 300 novas páginas jornalísticas online formadas por profissionais que foram levados ao desemprego pelo drástico enxugamento das redações de grandes jornais como El Mundo, El País e La Vanguardia. A opção ainda não pode ser considerada uma solução definitiva para o desemprego no setor jornalístico da Espanha, mas sinaliza o papel que a Web exerce na consolidação de um segmento noticioso alternativo em relação à imprensa convencional.
A inesperada ascensão de páginas como El Confidencial (conservadora) e El Diario (centro-esquerda) coincidiu com a perda de qualidade editorial dos três grandes da imprensa espanhola, obrigados a demitir jornalistas, inclusive editores experientes, para reduzir despesas e lograr renegociar dívidas bancárias. Alguns jornais passaram a ser controlados por bancos que impuseram controles sobre o teor das notícias econômicas publicadas.
O desânimo de uns e a esperança de outros marcou uma reviravolta na imprensa espanhola cujas consequências ainda são imprevisíveis. Os empresários, políticos e governantes ainda mantêm-se fiéis aos jornais tradicionais, mas o público em geral inclina-se cada vez mais pela mídia online, não só pelo fato de que é gratuita, mas principalmente porque desperta mais interesse, conforme atestam especialistas na imprensa espanhola, como o professor Ramon Salaverría.
A segmentação do público consumidor de notícias jornalísticas ameaça as publicações tradicionais porque será muito difícil reconquistar leitores, ainda mais num ambiente marcado pela abundância noticiosa. A reversão de tendências não significa que os jornais impressos desaparecerão e nem que as empresas que os publicam fecharão as portas. Mas o que parece certo é que não haverá mais espaço para grandes conglomerados industriais no jornalismo.
Erros estratégicos passados e a avalancha informativa gerada pelo internet obrigaram as empresas jornalísticas a reduzir ao mínimo as suas margens de lucro para tentar sobreviver no ambiente digital. Não há mais condições para grandes redações e enormes máquinas administrativas. A sobrevivência agora implica pessoal reduzido, altamente qualificado e especializado. Mas não é só isso. A sobrevivência dos jornais tradicionais depende também de uma parceira como as novas iniciativas individuais ou comunitárias no jornalismo online, com as que estão se multiplicando na Espanha.
As empresas podem estabelecer relações bilaterais com profissionais independentes, muitos dos quais já publicam blogs que são reproduzidos em jornais como Globo, Folha de S.Paulo, Estado de S.Paulo, Zero Hora e também no exterior, como The New York Times e The Washington Post. Por enquanto os jornais apenas hospedam blogs numa política de atrair leitores para a sua página Web, mas não vai demorar muito para surgirem parcerias na produção de matérias, especialmente em áreas do noticiário da cobertura local e internacional.
As parcerias podem ser uma opção natural para um duplo dilema. As empresas não têm mais receitas para serem autossuficientes em matéria de profissionais do jornalismo, enquanto os blogs e projetos noticiosos na Web ainda não encontraram, e talvez demorem a encontrar, uma solução para a subsistência econômica autônoma. Nenhum dos novos projetos online na Espanha alcançou, até agora, uma base econômica estável. Muitos não conseguirão sobreviver, mas cada insucesso será uma lição aprendida e uma potencial correção de erros.
Para que uma parceria desse tipo dê certo não basta apenas que ambas as partes estejam sem alternativas econômicas. São necessárias mudanças de comportamento e de valores. As empresas estão perdendo gradativamente o poder e a arrogância que tiveram, e muitas ainda têm, enquanto os exploradores do jornalismo online serão levados a desenvolver um novo relacionamento com as comunidades de informantes às quais estão ligados.
Os novos blogs jornalísticos espanhóis estão aprendendo, da forma mais dura possível, o preço da mudança de comportamentos e de valores. Para eles não se trata de uma aventura cibernética, mas da sobrevivência pura e simples.

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