quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Dilma fecha acordo que prevê produção de medicamentos cubanos no Brasil

Por Raymundo Costa | VALOR - De Porto Príncipe
Na viagem que fez a Cuba e ao Haiti, a presidente Dilma Rousseff fechou um acordo, em Havana, para a transferência de 20 produtos de biotecnologia, um pacote que terá o que há de ponta em termos de medicamentos de tratamento de câncer, transplantes, pé diabético e vacinas. Cuba tem dois grandes centros de biotecnologia, um dos últimos legados ao país da antiga União Soviética.
Já a partir de 2013, segundo disse o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, as oito maiores empresas brasileiras da área farmacêutica estarão fabricando esses medicamentos no país. As importações com transferência de tecnologia devem chegar aos US$ 100 milhões ao ano. Quando o complexo portuário de Mariel for inaugurado, as empresas devem passar a fabricar também em Havana.

O acordo conta com o apoio das oito maiores empresas farmacêuticas do Brasil, responsáveis por um faturamento de R$ 8 bilhões ao ano. A indústria foi representada na negociação pelo grupo Farmabrasil, no qual se associaram para tratar de seus interesses corporativos. Na realidade, em Havana, Dilma apenas ampliou um acordo feito pelo grupo com os cubanos e a mediação do ministro Padilha.
A última grande oportunidade que o país teve para avançar na área de pesquisa e tecnologia e avançar na área da biotecnologia ocorreu no fim dos anos 80 e início dos 90, época em que países como a Índia e a China foram incluídas no seleto grupo dos detentores de modernas tecnologias de combate ao câncer. “Tivemos uma oportunidade na época dos genéricos”, disse Padilha.
Em setembro, Padilha foi a Cuba com os representantes do grupo Farmabrasil. Na época foram definidos oito produtos que poderiam ser objeto de transferência de tecnologia. São produtos de ponta para o tratamento de câncer, transplantes, pé diabético (complicação que é o principal motivo de amputações no país) e vacinas. “Apenas dois desses produtos consomem 34% do Ministério da Saúde”, disse Padilha.
Na visita a Havana, Dilma ampliou o acordo: além de produzir no Brasil, os medicamentos também serão fabricados em Cuba, pelas empresas brasileiras, quando o porto de Mariel entrar em funcionamento, o que é previsto para 2014, embora muito pouco da obra tenha até agora sido executada, basicamente, o projeto de terraplanagem.
Dilma também firmou mais oito contratos de transferência de tecnologia de produtos para diagnóstico de doenças infecciosas, tratamento de câncer e vacinas. Ficou também acertada a construção, no Brasil, de um grande centro de biotecnologia, com o apoio e a expertise dos cubanos.
Atualmente, o Brasil importa cerca de US$ 80 milhões de Cuba, US$ 50 milhões na área farmacêutica, na aquisição de apenas dois produtos. Com os acordos, o país passará a importar US$ 100 milhões, com transferência de tecnologia. Mas em contrapartida espera exportar US$ 200 milhões ao ano, pois os produtos serão fabricados no Brasil. “Vamos baixar o preço dos medicamentos, ter acesso a uma tecnologia de que não dispomos e ainda ganharemos com a exportação”, disse Padilha.
Na conversa que teve com o ex-presidente Fidel Castro, o comandante da revolução cubana deu dois livros para a presidente brasileira, um deles a sua própria biografia como o “guerrilheiro do século”. Dilma deu chocolates a Fidel. O ex-presidente de Cuba, aos 85 anos, se locomove com alguma dificuldade, ainda devido a uma queda, há alguns anos. Ao ver Dilma, Fidel disse que achava que a presidente era mais baixa. O ex-presidente também afirmou que a obra do porto de Mariel era a maior em realização em Cuba, desde 1959 (ano da revolução).

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