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O ouriçamento da mídia dominante com a oferta de candidatura presidencial, feita pelo PV à senadora Marina da Silva, (PT-AC), dá uma ideia de como andam bicudos os tempos para o bloco oposicionista. "A operação Marina é coisa do Serra", teria dito o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, segundo a revista Veja. Resta saber se a senadora se prestará a esse papel.
Por Bernardo Joffily
A julgar pelo que sai na mídia, a candidatura da ex-ministra do Meio Ambiente é líquida e certa. Há até uma fila para ser vice na sua chapa, encabeçada pelo senador Cristovam Buarque (PDT-DF).A própria Marina, quando fala, não alimenta tamanhas certezas. Diz que ainda não decidiu nada e estabelece etapas para a discussão: primeiro, sair ou não do PT; segundo, entrar ou não no PV; e terceiro, ser ou não candidata presidencial. Ela estaria ainda na primeira etapa, examinando o tema com seus companheiros do PT acreano.
Fatores que empurram a candidatura - Pesam a favor do projeto do PV os enormes os interesses em jogo na sucessão presidencial, e as igualmente volumosas as pressões para que Marina cumpra, em 2010, o papel que em 2006 coube à então senadora Heloísa Helena, do Psol: bater no governo, "pela esquerda". O objetivo declarado é quebrar o caráter plebiscitário do voto, e se possível levar a eleição para o segundo turno. Os analistas da oposição acreditam que, com a economia se recuperando do tombo de dezembro e a imagem do presidente inabalada, uma eleição que tenha como conteúdo o julgamento dos anos Lula será irremediavelmente perdida, seja pelo tucano José Serra, o anti-Lula, seja pelo tucano Aécio Neves, o pós-Lula. Um elemento de diluição do plebiscito seria portanto muito bem vindo por eles.
Pesam a favor da candidatura Marina as trombadas entre ela e a candidata do Planalto, Dilma Rousseff, nos seis anos em que as duas estiveram na equipe de ministros do governo Lula. A postulação presidencial seria então uma oportunidade para fazer o debate da relação ambientalismo-desenvolvimento, tema complexo e controvertido. Curiosamente, porém, são os partidos que mais abundam em ruralistas de motosserra em punho que assopram o plano do PV.
Uma particularidade do PT acreano, que está no governo estadual há três mandatos, também pode trabalhar a favor do projeto presidencial. No distante estado amazônico, que já fez parte da Bolívia e passou alguns anos como república independente, um século atrás, a polarização do PT nunca foi com o PSDB, mas com o PMDB. Os tucanos acreanos – uma seção pouco expressiva do PSDB – até se coligaram aos petistas para levar Jorge Viana ao governo em 1998.
Por fim, uma afirmação extemporânea do ex-ministro e influente petista José Dirceu, nesta semana, terminou também jogando água no moinho dos que querem Marina candidata, embora a pretexto de desencorajá-la. Em uma nota no seu blog, Dirceu deu a entender que, caso Marina mudasse de partido, o PT deveria ficar com o seu mandato no Senado. É o entendimento da jurisprudência firmada pelo TSE, em nome da fidelidade partidária. Mas é também a discussão que os assopradores da candidatura Marina pediram a Deus.
Fatores que contrariam a candidatura - Pesam contra a empreitada, em primeiro lugar, as convicções e os princípios sempre proclamados por Marina da Silva. Ela é sócioambientalista – corrente de pensamento que vincula a questão ambiental à social e defende o desenvolvimento econômico sustentado, divergindo do preservacionismo a todo custo. Essa visão, herdada de seu iniciador na política, Chico Mendes (1944-1988), levou Marina a sustentar uma posição crítica em relação aos partidos verdes em geral e ao PV brasileiro em particular. Este, que nunca primou pela coerência doutrinária, dispõe-se a abraçar as posições da ex-ministra para tel-la como candidata, mas é duvidoso que ela ponha fé nessa súbita conversão.Pesam contra, igualmente, os laços históricos de Marina com o PT e com Lula. Marina reluta em romper com o partido de toda a sua vida (embora só tenha se filiado formalmente em 1985), conforme tem confidenciado a interlocutores. Mais ainda porque a senadora não nasceu ontem. Com certeza não lhe escapa a consciência de que a ruptura, nas circunstâncias dadas, beneficiaria as forças do velho conservadorismo, por mais que fosse apresentada em nome da utopia.
A grande dificuldade está no PV - Não tenho motivos para duvidar da sinceridade e inteireza de Marina da Silva. Mas constato que elas estão submetidas a uma dura prova. E caso as pressões prevaleçam e Marina morda o fruto ofertado pelo PV? Nem por isso estaria dado que ela desempenhasse o script que dela esperam os assopradores de sua candidatura. O Acre é um estado pequeno, o 24 entre os 26 da Federação, com 0,3% da população e do eleitorado do país (440 mil eleitores). O PV é um partido pequeno, que em 2006 teve 3,6% dos votos para deputado federal (11 lugar) e ficado com 13 cadeiras. Terá portanto um tempo reduzido de TV na campanha, em torno de um minuto, dificultando a quebra do caráter plebiscitário e bipolarizado da campanha eleitoral.
Porém a grande dificuldade não reside aí e sim na natureza política concreta do PV existente hoje no Brasil. Embora no plano nacional, um de seus quadros ocupe o cargo de ministro da Cultura, com Gilberto Gil e mais tarde com Juca Ferreira, no plano local a legenda possui uma forte propensão pró-tucanos. Em São Paulo e Minas Gerais, forma a base dos governadores do PSDB. Dificilmente será outro o rumo das seções estaduais verdes em 2010.
Mais problemática ainda é a situação do PV-RJ, que gravita em torno da figura do deputado federal Fernando Gabeira. Nas eleições municipais de 2008, Gabeira concorreu a prefeito e foi o fenômeno verde do ano. No primeiro turno, teve mais de 800 mil votos, contra 2 milhões de todos os demais candidatos verdes no país, e 300 mil nas outras capitais, coligado com o PSDB. No segundo turno, granjeou também o apoio do DEM e dobrou essa votação. Ocorre que Gabeira é candidatíssimo a governador do Rio em 2010, novamente em aliança com o PSDB, apadrinhada por José Serra e Fernando Henrique Cardoso. Depois de almoçar com Marina nesta quinta-feira, o deputado saiu estimulando a candidatura da ex-ministra mas deixando claro que seu compromisso com Serra presidente permanece.
Moral da história: a eleição de 2010 não se anuncia plebiscitária devido a um maquiavélico plano palaciano, mas sim porque o país está basicamente dividido em dois campos, o de Lula e o anti-Lula. A senadora Marina da Silva, antes de decidir se deixa o PT, entra no PV e concorre à Presidência, deveria explicitar qual desses campos é o seu.
O ouriçamento da mídia dominante com a oferta de candidatura presidencial, feita pelo PV à senadora Marina da Silva, (PT-AC), dá uma ideia de como andam bicudos os tempos para o bloco oposicionista. "A operação Marina é coisa do Serra", teria dito o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, segundo a revista Veja. Resta saber se a senadora se prestará a esse papel.
Por Bernardo Joffily
A julgar pelo que sai na mídia, a candidatura da ex-ministra do Meio Ambiente é líquida e certa. Há até uma fila para ser vice na sua chapa, encabeçada pelo senador Cristovam Buarque (PDT-DF).A própria Marina, quando fala, não alimenta tamanhas certezas. Diz que ainda não decidiu nada e estabelece etapas para a discussão: primeiro, sair ou não do PT; segundo, entrar ou não no PV; e terceiro, ser ou não candidata presidencial. Ela estaria ainda na primeira etapa, examinando o tema com seus companheiros do PT acreano.
Fatores que empurram a candidatura - Pesam a favor do projeto do PV os enormes os interesses em jogo na sucessão presidencial, e as igualmente volumosas as pressões para que Marina cumpra, em 2010, o papel que em 2006 coube à então senadora Heloísa Helena, do Psol: bater no governo, "pela esquerda". O objetivo declarado é quebrar o caráter plebiscitário do voto, e se possível levar a eleição para o segundo turno. Os analistas da oposição acreditam que, com a economia se recuperando do tombo de dezembro e a imagem do presidente inabalada, uma eleição que tenha como conteúdo o julgamento dos anos Lula será irremediavelmente perdida, seja pelo tucano José Serra, o anti-Lula, seja pelo tucano Aécio Neves, o pós-Lula. Um elemento de diluição do plebiscito seria portanto muito bem vindo por eles.
Pesam a favor da candidatura Marina as trombadas entre ela e a candidata do Planalto, Dilma Rousseff, nos seis anos em que as duas estiveram na equipe de ministros do governo Lula. A postulação presidencial seria então uma oportunidade para fazer o debate da relação ambientalismo-desenvolvimento, tema complexo e controvertido. Curiosamente, porém, são os partidos que mais abundam em ruralistas de motosserra em punho que assopram o plano do PV.
Uma particularidade do PT acreano, que está no governo estadual há três mandatos, também pode trabalhar a favor do projeto presidencial. No distante estado amazônico, que já fez parte da Bolívia e passou alguns anos como república independente, um século atrás, a polarização do PT nunca foi com o PSDB, mas com o PMDB. Os tucanos acreanos – uma seção pouco expressiva do PSDB – até se coligaram aos petistas para levar Jorge Viana ao governo em 1998.
Por fim, uma afirmação extemporânea do ex-ministro e influente petista José Dirceu, nesta semana, terminou também jogando água no moinho dos que querem Marina candidata, embora a pretexto de desencorajá-la. Em uma nota no seu blog, Dirceu deu a entender que, caso Marina mudasse de partido, o PT deveria ficar com o seu mandato no Senado. É o entendimento da jurisprudência firmada pelo TSE, em nome da fidelidade partidária. Mas é também a discussão que os assopradores da candidatura Marina pediram a Deus.
Fatores que contrariam a candidatura - Pesam contra a empreitada, em primeiro lugar, as convicções e os princípios sempre proclamados por Marina da Silva. Ela é sócioambientalista – corrente de pensamento que vincula a questão ambiental à social e defende o desenvolvimento econômico sustentado, divergindo do preservacionismo a todo custo. Essa visão, herdada de seu iniciador na política, Chico Mendes (1944-1988), levou Marina a sustentar uma posição crítica em relação aos partidos verdes em geral e ao PV brasileiro em particular. Este, que nunca primou pela coerência doutrinária, dispõe-se a abraçar as posições da ex-ministra para tel-la como candidata, mas é duvidoso que ela ponha fé nessa súbita conversão.Pesam contra, igualmente, os laços históricos de Marina com o PT e com Lula. Marina reluta em romper com o partido de toda a sua vida (embora só tenha se filiado formalmente em 1985), conforme tem confidenciado a interlocutores. Mais ainda porque a senadora não nasceu ontem. Com certeza não lhe escapa a consciência de que a ruptura, nas circunstâncias dadas, beneficiaria as forças do velho conservadorismo, por mais que fosse apresentada em nome da utopia.
A grande dificuldade está no PV - Não tenho motivos para duvidar da sinceridade e inteireza de Marina da Silva. Mas constato que elas estão submetidas a uma dura prova. E caso as pressões prevaleçam e Marina morda o fruto ofertado pelo PV? Nem por isso estaria dado que ela desempenhasse o script que dela esperam os assopradores de sua candidatura. O Acre é um estado pequeno, o 24 entre os 26 da Federação, com 0,3% da população e do eleitorado do país (440 mil eleitores). O PV é um partido pequeno, que em 2006 teve 3,6% dos votos para deputado federal (11 lugar) e ficado com 13 cadeiras. Terá portanto um tempo reduzido de TV na campanha, em torno de um minuto, dificultando a quebra do caráter plebiscitário e bipolarizado da campanha eleitoral.
Porém a grande dificuldade não reside aí e sim na natureza política concreta do PV existente hoje no Brasil. Embora no plano nacional, um de seus quadros ocupe o cargo de ministro da Cultura, com Gilberto Gil e mais tarde com Juca Ferreira, no plano local a legenda possui uma forte propensão pró-tucanos. Em São Paulo e Minas Gerais, forma a base dos governadores do PSDB. Dificilmente será outro o rumo das seções estaduais verdes em 2010.
Mais problemática ainda é a situação do PV-RJ, que gravita em torno da figura do deputado federal Fernando Gabeira. Nas eleições municipais de 2008, Gabeira concorreu a prefeito e foi o fenômeno verde do ano. No primeiro turno, teve mais de 800 mil votos, contra 2 milhões de todos os demais candidatos verdes no país, e 300 mil nas outras capitais, coligado com o PSDB. No segundo turno, granjeou também o apoio do DEM e dobrou essa votação. Ocorre que Gabeira é candidatíssimo a governador do Rio em 2010, novamente em aliança com o PSDB, apadrinhada por José Serra e Fernando Henrique Cardoso. Depois de almoçar com Marina nesta quinta-feira, o deputado saiu estimulando a candidatura da ex-ministra mas deixando claro que seu compromisso com Serra presidente permanece.
Moral da história: a eleição de 2010 não se anuncia plebiscitária devido a um maquiavélico plano palaciano, mas sim porque o país está basicamente dividido em dois campos, o de Lula e o anti-Lula. A senadora Marina da Silva, antes de decidir se deixa o PT, entra no PV e concorre à Presidência, deveria explicitar qual desses campos é o seu.
3 comentários:
Está se falando muita coisa sobre as rezões da saída de Marina do PT. Estou a me perguntar: Seria mesmo tudo isso que falam OU TEM ALGO LÁ NA POLITICA DO ACRE, QUE NÃO ESTÁ LHE AGRADANDO E FICANDO SEM VEZ? Penso que Marina deva estar com que dando o golpe do baú. Pode estar pensando em ficar onde se encontra e mais fortalecida. Por outro lado, todo esse lambe-lambe da midia que não gosta do Lula, vai lhe jogar coisas como se ela fosse não a Marina,mas a Geni.
O CASO DE SERRA É CLÁSSICO: um candidato com alto recall, com concentração já fixada de votos…mas com altíssima rejeição, e capaz de ampliar esta rejeição pela exposição…estão tentando positivar a exposição do governador…em casos como a futura eleição, Serra tem concentração de votos, não cresce mas desce pouco…até ser exposto negativamente…stress de material…produto com tempo de vida já adiantado…o que ele precisa? como é o candidato que tem maior votação, precisa que os votos que não tem, e não conseguirá ter, sejam divididos entre os demais candidatos, um impedindo o outro de decolar…simples assim, e em caso de segundo turno, imaginar que um deles, para decolar no primeiro turno, detone o outro, para depois ir buscar o candidato que sobrou e trazer para suas hostes…é o que tenta fazer com Marina, que terá alta exposição, e exposição positiva através do PIG, e inclusive, terá partidos aliados enviados pelo PSDB para que tenha tempo na TV e fragilize Dilma…É O QUE RESTA AO PSDB, pois se Dilma sair como candidata única, toda a concentração de votos dispersa entre DILMA, CIRO E HH, migrará para a Ministra da Casa Civil…com o apoio de Lula, com o PMDB capilarizado pelo Brasil…não teria chance nenhuma...É A ÚNICA SAÍDA DE SERRA…o tiro final…
O PV comprou uma pesquisa em que colocava a Marina com percentual acima de 10%, porém com esta nova pesquisa a Marina deve estar vendo que a pesquisa do PV era falsa, e ela não passa de 3%, portanto se elaç pensava em candidatar é capaz até de mudar de idéia pois sabe que precisará de muito dinheiro para alavanca a sua candidatura, e se começar a crescer e tirar alguns votos do PSDB vai ter toda a mídia criticando-a como ela mesma conheceu quando foi ministra.
Marina pense bem antes de tomar esta decisão ou então pegue uma boa grana para ficar bem depois das eleições e sem cargo.
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