terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Serra opina sobre Arruda, mas continua calado sobre Yeda Crusius

DO BLOG DO ANSELMO RAPOSO
Desde sempre em silêncio sobre as múltiplas denúncias que há muitos meses atingem a governadora tucana do Rio Grande do Sul, Yeda Crusius, o governador paulista José Serra (PSDB) animou-se ontem a considerar gravíssimas as acusações ao governador José Roberto Arruda, do DEM – um de seus principais aliados no governo e principal parceiro para as eleições de 2010.

Yeda é uma vidraça e tanto. A tucana que faz o governo mais tumultuado que o Rio Grande do Sul já experimentou, desde a República Velha, somente se livrou de um pedido de impeachment por obra da maioria que mantém na Assembléia Legislativa e de uma postura contida da imprensa local. Antes das chuvas que flagelam o estado, houve uma enxurrada de denúncias de corrupção que arrastou Yeda para um buraco aparentemente sem fundo, tornando-a a mais impopular entre todos os 27 governadores, com mais de 60% de rejeição.

As atribulações de sua gestão com a atividade policial começaram com os

R$ 44 milhões surrupiados do Detran. Mas foi só o começo. Veio logo a mal explicada aquisição da mansão da governadora e, mais tarde, o uso de dinheiro público para compra de móveis particulares. Depois do rompimento com seu vice, Paulo Feijó, este bandeou-se com armas e bagagens para a trincheira oposta. Feijó fez mais: gravou uma conversa cabeluda do chefe da Casa Civil de Yeda, César Busatto, dizendo-lhe como o dinheiro público era tratado. Explicou a Feijó que um partido pequeno no estado, como o PSDB, dependia, para governar, do apoio de siglas poderosas como o PP e o PMDB. Entende-se do diálogo que o PP extrairia seus recursos do Detran – o que mais tarde veio à tona com a operação Rodin, da Polícia Federal – enquanto o PMDB faria o mesmo com o Banrisul – banco do Estado. Feijó tornou pública a conversa com Busatto, este caiu e o Governo Yeda perdeu um pouco mais de credibilidade.

Ao longo de quase três anos de administração, a governadora colecionou problemas e cultivou inimizades. Secretários estaduais e dois diretores do Detran saíram atirando. Amigo de Yeda dos tempos de campanha, como um de seus coordenadores, o empresário Lair Ferst partiu para o ataque, após perder parte do butim do Detran. Mais de 20 nomes do primeiro escalão pediram demissão ou foram defenestrados, muitas vezes levados de roldão pelas denúncias de corrupção.

Agora, mais dois secretários de Yeda – Marco Alba, da Habitação, e Rogério Porto, da Irrigação – aparecem no inquérito da Operação Solidária, também da PF, como cabeças do esquema de fraudes nas licitações. Não é demais lembrar que a operação ganhou este nome devido ao lema “Administração Solidária”, da Prefeitura do município de Canoas, então governada pelo PSDB, e onde a Polícia Federal primeiro flagrou a falcatrua das licitações arranjadas.

Como se não bastasse, aliados desde sempre como o PMDB e o PP vêem-se cada vez mais enrascados. Estão nesta situação os deputados federais Eliseu Padilha (PMDB) e José Otávio Germano (PP), os deputados estaduais Frederico Antunes (PP), Luiz Fernando Záchia, Alceu Moreira e Marco Alba, os três do PMDB.

Há também um cadáver em cena. Até hoje, a estranha morte do ex-chefe da representação do Rio Grande do Sul em Brasília, Marcelo Cavalcanti, não foi esclarecida. Seu corpo apareceu boiando no lago Paranoá. Suicídio ou homicídio? “Marcelinho”, como o chamava Yeda, sabia bastante sobre os bastidores da gestão tucana. Era fevereiro de 2009 e ele morreu poucos dias antes de depor ao Ministério Público Federal.

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