Onde nasceu, quais seus ídolos de infância, onde estudou e onde trabalhou?
Nasci numa cidadezinha do interior do Rio Grande Sul, chamada Venâncio Aires. Estudei no Colégio Nossa Senhora da Aparecida. Uma criança que brincava nas ruas e gostava de ler Erico Veríssimo: “O tempo e o vento” e Graciliano Ramos – “Vidas Secas”. Na adolescência adora jogar futebol apesar de ser um zagueiro razoável do glorioso Cruzeiro e joguei muito contra o Mano Menezes que jogava no Guarani – tudo em Venâncio. Ai, debandei para capital onde me formei em economia na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, com especialização em ciências políticas e em relações do trabalho. Cursei doutoradoem economia pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Docente da Unicamp desde 1995, professor livre docente licenciado na área de economia social e do trabalho e também pesquisador do Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho da Unicamp desde 1989. Fui diretor-executivo do centro entre 1997 e 1998, consultor do Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese), do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) e de organismos multilaterais das Nações Unidas, como a Organização Internacional do Trabalho (OIT). Secretário municipal do Desenvolvimento, Trabalho e Solidariedade de São Paulo entre 2001 e 2004. E desde 2007 presido o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada - Ipea, fundação pública vinculada a Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República. Gosto de escrever e organizei mais de 30 livros, entre eles A Década dos Mitos, vencedor do Prêmio Jabuti na área de economia em 2002 e, novamente, com muita honra, o Jabuti de 2007 com um livro sobre crescimento econômico e distribuição de renda.
BLOG DA DILMA: O que a crise financeira internacional de 2008, deixa de lição ao mundo e ao Brasil?
Do ponto de vista da natureza, trata-se de uma crise sistêmica e estrutural. Sistêmica porque ela se iniciou no coração do sistema financeiro e está indo ao cérebro da política, isso dá a idéia de sistematicidade de crise destas naturezas. Compreendo que a primeira lição é a fragilidade do modelo capitalista. Não dá para aceitar que com todos os avanços das instituições, uma meia dúzia de capitalistas ajam de forma desonesta e causem a tragédia na vida de milhões de pessoas.
A segunda lição é que o Estado enquanto instituição reguladora e fomentadora dentre outras funções na sociedade é indispensável. E, aqui, mais um defeito do capitalismo que socializa o prejuízo e individualiza os ganhos.
Uma terceira lição é que o sistema financeiro mundial precisa ser revisto no campo da legislação e do seu papel institucional. Não é mais prudente a sociedade do século XXI conviver com lucros imaginários e desvinculados da produção.
O capitalismo não conseguiu promover uma distribuição mais equânime da riqueza e da renda. Persiste uma concentração de renda e riqueza nas mãos de poucos privilegiados. Este defeito do sistema não se tem conserto. Que não mais do que 1,2 milhões de ricos do mundo possuam uma riqueza superior a 50% da população adulta do mundo. No coração do capitalismo - EUA se na década de 50, 1% dos mais ricos absorvia 10% da riqueza dos Estados Unidos, a partir dos anos 80 há um crescimento e hoje cerca de 18,3 % da renda nacional é absorvido por apenas 1 % da população mais rica.
E o desrespeito e pouca atenção da questão ambiental também é outro defeito do capitalismo.
BLOG DA DILMA: Quais os avanços conquistados no governo Lula que você destaca?
O governo Lula é responsável pela criação de um mercado interno consumidor, um objetivo desde a República, que só agora podemos dizer que este mercado de consumo classe C e D existe, o que é um grande feito do governo que deu condições para sua formação.
A ascensão social dentro da pirâmide social – antiga forma da composição – hoje é um símbolo mais próximo duma pêra. Temos 21 milhões de brasileiros de uma nova classe media. Mais 19 milhões que abandonaram a pobreza. E, mais algo perto de 10 milhões de pessoas que ascenderam as classes A/B/C. E, mais uns poucos para a classe A. Logo, esta grande mobilidade de forma ascendente da sociedade nacional foi decorrente das ações do governo Lula.
A geração de empregos formais motivada pelo crescimento econômico, ações políticas de incentivos a formalização do emprego e a atuação do Ministério do Trabalho.
A oposição política ao Lula tem o hábito de dizer que ele teve sorte. Não concordo com esta simples explicação para os resultados do governo federal. Todas as decisões do governo que possibilitaram esta mobilidade social foram tomadas, por força e determinação da decisão política exclusiva do presidente Lula. Assim foi nas questões do aumento real do salário mínimo, da ampliação dos assistidos do programa “Bolsa Família”, como enfrentamento a crise financeira internacional e outros programas de governo.
O combate a corrupção e transparência dos gastos públicos também são ações importantes do atual governo.
O nível de investimento feito pelo governo Lula é relevante, quase 20% do PIB. O PAC é foi um reclamo e necessidade que durante décadas, a mídia, a sociedade civil organizada e os agentes políticos reclamavam a falta de um plano desta dimensão no aspecto da infraestutura. Após o fim do período militar nada foi planejado e executado como plano de infraestrutura no país. E, posso afirmar que é uma falácia dizer que o PAC não existe na realidade, bem como, que os benefícios diretos e indiretos serão percebidos e reconhecidos muito em breve pela sociedade nacional.
Os Conselhos consultivos e conferencias também foram decisões políticas do presidente Lula que procura democratizar a decisão do poder central.
BLOG DA DILMA: O que precisa avançar no campo da economia e das políticas públicas num possível governo Dilma?
Primeiro a diminuição radical do que pagamos a titulo de juros da dívida pública interna. Segundo uma reforma tributária de característica progressiva na direção do rendimento e riqueza, ou seja, paga mais quem ganha e possui mais. A desoneração e simplificação do sistema tributário do setor produtivo é outra medida importante.
O planejamento de médio e longo prazo é outra reforma estrutural que deve ser central num futuro governo Dilma. Além da recomposição do Estado brasileiro para ampliar e dar melhor qualidade aos serviços públicos. Neste aspecto, a proposição e execução das políticas públicas devem ser encaradas sob o aspecto matricial. O que quero dizer é que a eficiência e a complexidade dos fatos sociais exigem um grau de participação de diversos atores, não é mais o tempo das “caixinhas”. Tinha um problema social, por exemplo: educação; então se criava o ministério que só trata da educação. Hoje o fato social, por exemplo, a reforma agrária, para ser bem sucedida, exige o envolvimento de muitos ministérios e até de outros poderes . Se não for assim, se reduz a chance do sucesso. Não é só dar a terra ou dividi-la, tem que dar crédito, acesso a técnica, educação, lazer, mercado, infraestrutura, energia, etc. O programa “Territórios da Cidadania” é o embrião de uma forma de atuação do governo que pode ser adotado no futuro.
Muitas ações no campo da ciência e tecnologia, na produção de energia e, mais um amplo debate no campo da educação e do seu conteúdo. Abandonar esta visão enciclopédica e incentivar o desenvolvimento do raciocínio crítico e analítico.
BLOG DA DILMA: Qual é a importância da política na vidaem sociedade? E qual é o modelo de sociedade que deseja para você e seus filhos?
Eu sou professor universitário e tenho contato muito próximo e constante com a juventude. O que me deixa um pouco apreensivo é o baixo interesse da juventude e até mesmo da sociedade, de forma generalizada, de respeito e reconhecimento do valor da ação política. Existe uma falsa e perniciosa compreensão de que quem entra na vida política, entra para praticar corrupção. Não é verdade! Muita gente boa entra por causa de um ideal, de um dever cívico. E a grande maioria da sociedade não entra e deixa os agentes políticos bem intencionados sem o apoio popular que merecem receber para inibir a ação dos políticos nem tão bem intencionados.
Afastando-se a sociedade da ação política do nosso país, possibilita a eleição de pessoas sem compromisso com o bem estar da coletividade.
A decisão política é adotada em razão da interpretação que o agente político dá a realidade. Veja como a decisão política é importante. Quando secretario de desenvolvimento da prefeita Marta Suplicy, por força da decisão política, implantamos um programa de assistência aos desempregados, jovens e carentes da cidade de São Paulo.
Pois bem, quando saímos da prefeitura de São Paulo o nosso cadastro de pessoas que recebiam da municipalidade apoio financeiro alcançava mais de 500 mil pessoas. Um mês após a posse de quem ganhou a eleição, se adotou outra decisão política que foi a brusca e grande redução das pessoas assistidas. Ou seja, em 30 dias a decisão política de um novo gestor afetou a vida de centenas de milhares de pessoas.
Não vou entrar no mérito de quem estava certou ou errado na decisão política. O que posso dizer é que alguns resultados alcançados por este programa de governo, foram relevantesna cidade de São Paulo. O Capão Redondo liderava o ranking da violência e das ocorrências criminais, um ano após a implantação da política pública, o Capão Redondo de 1º colocado passou a 5ª posição na quantidade de atos de violência. Esta redução, certamente, recebeu a influencia positiva da decisão política.
A sociedade que desejo ver algum dia será fundada na solidariedade, na sociabilidade e na fraternidade, entre os nossos concidadãos. Onde os serviços públicos sejam de qualidade e universais. Onde as imensas diferenças de acúmulo da renda e riqueza sejam tremendamente reduzidas.
Falar da sociedade que desejo é como falar da sociedade que não desejo. Perceba que no mundo de hoje o que temos é o controle mundial feito basicamente pelas 500 maiores corporações transacionais que dominam qualquer setor da atividade econômica. Quando somamos o faturamento das maiores corporações do mundo, observamos que elas têm 46% do PIB mundial. As três maiores corporações têm um faturamento equivalente ao PIB do Brasil. O PIB das 50 maiores corporações é superior ao PIB de 150 países. O sistema ONU está despreparado para lidar com esta nova realidade o grau de concentração econômica destas grandes corporações e a crise acirrará o grau de concentração e centralização do capital, estamos vendo a associação e fusão de bancos, fusão de grandes empresas, então nesta perspectiva como fazer a governança do mundo? Não há dúvida que é necessário o fortalecimento do papel das políticas públicas. O G-20 está se aparentando como um espaço novo de construção, evidentemente que o G-20 nos parece insuficiente se não tiver uma organização, um grau de capilaridade de organização superior ao das Nações Unidas especialmente num quadro em que convivemos num esgotamento de padrão de desenvolvimento sustentado de produção de bens de consumo durável que foi justamente o motor da expansão do século 20. Esta sociedade consumista e individualista, não desejo para meus filhos, amigas e amigos.
BLOG DA DILMA: A sociedade brasileira X juventude X governo? O que propõe para esta equação?
Um elemento que me preocupa e nem sempre esta no centro do debate nacional é a baixa taxa de fecundidade, insuficiente no médio prazo para a reposição da população brasileira. Um envelhecimento precoce de uma sociedade nova e com grande dimensão territorial a ocupar, gerar riqueza e promover a defesa nacional.
Não vejo razão para que a juventude ingresse no mercado de trabalho com menos de 25 anos de idade. O que não ode é o filho do rico ser beneficiado pela possibilidade de estudar até os 25 anos de idade e aí partir para disputar as melhores vagas do mercado de trabalho e as posições nas instituições.
Cabe ao governo atuar e intervir para se igualar as condições do preparo intelectual entre os filhos dos pobres com os filhos dos ricos.
A sociedade deve atentar para estas diferenças e fazer pressão junto ao governo para que se adotem políticas públicas multidisciplinares e que vão ao encontro desta parcela significativa que é a juventude brasileira.
BLOG DA DILMA: E a questão do trabalho no país? Vamos continuar abrindo a mesma quantidade de vagas que foram abertas nestes últimos 4 anos? E no futuro qual será o tipo de trabalho que terá a sociedade?
O fim do trabalho heterônomo é um fato irreversível. A redução da jornada de trabalho é perfeitamente aceitável e viável nos dias atuais. Não existe razão para termos uma jornada de trabalho semanal de 12 horas. O resto do tempo presta para dar vazão à necessidade humana de estudar, participar da vida social e política de nossa comunidade e do país. Relacionarmos de forma mais próxima do crescimento de nossos filhos, a pratica de esporte, serviço social e no aspecto do estudo, defendo que deva ser para a vida toda o processo do aprendizado.
Mas defendo de forma tranqüila a redução da jornada de trabalho e a escola para toda a vida. Dois grandes avanços é um tremendo salto positivo na qualidade de vida da sociedade.
BLOG DA DILMA: Deixa um recado final para as forças progressistas do Brasil que não querem nenhum tipo de retrocesso?
Que arregacem as mangas e gastem solas de sapatos, que abandonem o conforto dos seus lares para uma atividade cívica e em prol da maioria da sociedade brasileira. O Brasil conquistou avanços sociais e econômicos importantes, mas ainda são frágeis e podemos regredir novamente nesta jornada. Não é uma frase de efeito é a realidade. Como destaquei a importância da decisão política e as mudanças que podem gerar efeitos rapidamente na sociedade.
A qualidade de vida numa sociedade como é a do Brasil quando comparada com os países mais avançados. Deixa patente que os avanços de agora têm que aprofundar. O Brasil não pode regredir por causa de uma decisão de ordem política, pois ainda temos muito a caminhar para frente, para sermos uma sociedade com menos desigualdades de oportunidades, renda e riqueza. Entrevista feita pelo correspondente do Blog da Dilma, GUILHERME DIAS(foto acima ao lado) - Blog Guilherme e seus dias.
Nasci numa cidadezinha do interior do Rio Grande Sul, chamada Venâncio Aires. Estudei no Colégio Nossa Senhora da Aparecida. Uma criança que brincava nas ruas e gostava de ler Erico Veríssimo: “O tempo e o vento” e Graciliano Ramos – “Vidas Secas”. Na adolescência adora jogar futebol apesar de ser um zagueiro razoável do glorioso Cruzeiro e joguei muito contra o Mano Menezes que jogava no Guarani – tudo em Venâncio. Ai, debandei para capital onde me formei em economia na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, com especialização em ciências políticas e em relações do trabalho. Cursei doutorado
BLOG DA DILMA: O que a crise financeira internacional de 2008, deixa de lição ao mundo e ao Brasil?
Do ponto de vista da natureza, trata-se de uma crise sistêmica e estrutural. Sistêmica porque ela se iniciou no coração do sistema financeiro e está indo ao cérebro da política, isso dá a idéia de sistematicidade de crise destas naturezas. Compreendo que a primeira lição é a fragilidade do modelo capitalista. Não dá para aceitar que com todos os avanços das instituições, uma meia dúzia de capitalistas ajam de forma desonesta e causem a tragédia na vida de milhões de pessoas.
A segunda lição é que o Estado enquanto instituição reguladora e fomentadora dentre outras funções na sociedade é indispensável. E, aqui, mais um defeito do capitalismo que socializa o prejuízo e individualiza os ganhos.
Uma terceira lição é que o sistema financeiro mundial precisa ser revisto no campo da legislação e do seu papel institucional. Não é mais prudente a sociedade do século XXI conviver com lucros imaginários e desvinculados da produção.
O capitalismo não conseguiu promover uma distribuição mais equânime da riqueza e da renda. Persiste uma concentração de renda e riqueza nas mãos de poucos privilegiados. Este defeito do sistema não se tem conserto. Que não mais do que 1,2 milhões de ricos do mundo possuam uma riqueza superior a 50% da população adulta do mundo. No coração do capitalismo - EUA se na década de 50, 1% dos mais ricos absorvia 10% da riqueza dos Estados Unidos, a partir dos anos 80 há um crescimento e hoje cerca de 18,3 % da renda nacional é absorvido por apenas 1 % da população mais rica.
E o desrespeito e pouca atenção da questão ambiental também é outro defeito do capitalismo.
BLOG DA DILMA: Quais os avanços conquistados no governo Lula que você destaca?
O governo Lula é responsável pela criação de um mercado interno consumidor, um objetivo desde a República, que só agora podemos dizer que este mercado de consumo classe C e D existe, o que é um grande feito do governo que deu condições para sua formação.
A ascensão social dentro da pirâmide social – antiga forma da composição – hoje é um símbolo mais próximo duma pêra. Temos 21 milhões de brasileiros de uma nova classe media. Mais 19 milhões que abandonaram a pobreza. E, mais algo perto de 10 milhões de pessoas que ascenderam as classes A/B/C. E, mais uns poucos para a classe A. Logo, esta grande mobilidade de forma ascendente da sociedade nacional foi decorrente das ações do governo Lula.
A geração de empregos formais motivada pelo crescimento econômico, ações políticas de incentivos a formalização do emprego e a atuação do Ministério do Trabalho.
A oposição política ao Lula tem o hábito de dizer que ele teve sorte. Não concordo com esta simples explicação para os resultados do governo federal. Todas as decisões do governo que possibilitaram esta mobilidade social foram tomadas, por força e determinação da decisão política exclusiva do presidente Lula. Assim foi nas questões do aumento real do salário mínimo, da ampliação dos assistidos do programa “Bolsa Família”, como enfrentamento a crise financeira internacional e outros programas de governo.
O combate a corrupção e transparência dos gastos públicos também são ações importantes do atual governo.
O nível de investimento feito pelo governo Lula é relevante, quase 20% do PIB. O PAC é foi um reclamo e necessidade que durante décadas, a mídia, a sociedade civil organizada e os agentes políticos reclamavam a falta de um plano desta dimensão no aspecto da infraestutura. Após o fim do período militar nada foi planejado e executado como plano de infraestrutura no país. E, posso afirmar que é uma falácia dizer que o PAC não existe na realidade, bem como, que os benefícios diretos e indiretos serão percebidos e reconhecidos muito em breve pela sociedade nacional.
Os Conselhos consultivos e conferencias também foram decisões políticas do presidente Lula que procura democratizar a decisão do poder central.
BLOG DA DILMA: O que precisa avançar no campo da economia e das políticas públicas num possível governo Dilma?
Primeiro a diminuição radical do que pagamos a titulo de juros da dívida pública interna. Segundo uma reforma tributária de característica progressiva na direção do rendimento e riqueza, ou seja, paga mais quem ganha e possui mais. A desoneração e simplificação do sistema tributário do setor produtivo é outra medida importante.
O planejamento de médio e longo prazo é outra reforma estrutural que deve ser central num futuro governo Dilma. Além da recomposição do Estado brasileiro para ampliar e dar melhor qualidade aos serviços públicos. Neste aspecto, a proposição e execução das políticas públicas devem ser encaradas sob o aspecto matricial. O que quero dizer é que a eficiência e a complexidade dos fatos sociais exigem um grau de participação de diversos atores, não é mais o tempo das “caixinhas”. Tinha um problema social, por exemplo: educação; então se criava o ministério que só trata da educação. Hoje o fato social, por exemplo, a reforma agrária, para ser bem sucedida, exige o envolvimento de muitos ministérios e até de outros poderes . Se não for assim, se reduz a chance do sucesso. Não é só dar a terra ou dividi-la, tem que dar crédito, acesso a técnica, educação, lazer, mercado, infraestrutura, energia, etc. O programa “Territórios da Cidadania” é o embrião de uma forma de atuação do governo que pode ser adotado no futuro.
Muitas ações no campo da ciência e tecnologia, na produção de energia e, mais um amplo debate no campo da educação e do seu conteúdo. Abandonar esta visão enciclopédica e incentivar o desenvolvimento do raciocínio crítico e analítico.
BLOG DA DILMA: Qual é a importância da política na vida
Eu sou professor universitário e tenho contato muito próximo e constante com a juventude. O que me deixa um pouco apreensivo é o baixo interesse da juventude e até mesmo da sociedade, de forma generalizada, de respeito e reconhecimento do valor da ação política. Existe uma falsa e perniciosa compreensão de que quem entra na vida política, entra para praticar corrupção. Não é verdade! Muita gente boa entra por causa de um ideal, de um dever cívico. E a grande maioria da sociedade não entra e deixa os agentes políticos bem intencionados sem o apoio popular que merecem receber para inibir a ação dos políticos nem tão bem intencionados.
Afastando-se a sociedade da ação política do nosso país, possibilita a eleição de pessoas sem compromisso com o bem estar da coletividade.
A decisão política é adotada em razão da interpretação que o agente político dá a realidade. Veja como a decisão política é importante. Quando secretario de desenvolvimento da prefeita Marta Suplicy, por força da decisão política, implantamos um programa de assistência aos desempregados, jovens e carentes da cidade de São Paulo.
Pois bem, quando saímos da prefeitura de São Paulo o nosso cadastro de pessoas que recebiam da municipalidade apoio financeiro alcançava mais de 500 mil pessoas. Um mês após a posse de quem ganhou a eleição, se adotou outra decisão política que foi a brusca e grande redução das pessoas assistidas. Ou seja, em 30 dias a decisão política de um novo gestor afetou a vida de centenas de milhares de pessoas.
Não vou entrar no mérito de quem estava certou ou errado na decisão política. O que posso dizer é que alguns resultados alcançados por este programa de governo, foram relevantesna cidade de São Paulo. O Capão Redondo liderava o ranking da violência e das ocorrências criminais, um ano após a implantação da política pública, o Capão Redondo de 1º colocado passou a 5ª posição na quantidade de atos de violência. Esta redução, certamente, recebeu a influencia positiva da decisão política.
A sociedade que desejo ver algum dia será fundada na solidariedade, na sociabilidade e na fraternidade, entre os nossos concidadãos. Onde os serviços públicos sejam de qualidade e universais. Onde as imensas diferenças de acúmulo da renda e riqueza sejam tremendamente reduzidas.
Falar da sociedade que desejo é como falar da sociedade que não desejo. Perceba que no mundo de hoje o que temos é o controle mundial feito basicamente pelas 500 maiores corporações transacionais que dominam qualquer setor da atividade econômica. Quando somamos o faturamento das maiores corporações do mundo, observamos que elas têm 46% do PIB mundial. As três maiores corporações têm um faturamento equivalente ao PIB do Brasil. O PIB das 50 maiores corporações é superior ao PIB de 150 países. O sistema ONU está despreparado para lidar com esta nova realidade o grau de concentração econômica destas grandes corporações e a crise acirrará o grau de concentração e centralização do capital, estamos vendo a associação e fusão de bancos, fusão de grandes empresas, então nesta perspectiva como fazer a governança do mundo? Não há dúvida que é necessário o fortalecimento do papel das políticas públicas. O G-20 está se aparentando como um espaço novo de construção, evidentemente que o G-20 nos parece insuficiente se não tiver uma organização, um grau de capilaridade de organização superior ao das Nações Unidas especialmente num quadro em que convivemos num esgotamento de padrão de desenvolvimento sustentado de produção de bens de consumo durável que foi justamente o motor da expansão do século 20. Esta sociedade consumista e individualista, não desejo para meus filhos, amigas e amigos.
BLOG DA DILMA: A sociedade brasileira X juventude X governo? O que propõe para esta equação?
Um elemento que me preocupa e nem sempre esta no centro do debate nacional é a baixa taxa de fecundidade, insuficiente no médio prazo para a reposição da população brasileira. Um envelhecimento precoce de uma sociedade nova e com grande dimensão territorial a ocupar, gerar riqueza e promover a defesa nacional.
Não vejo razão para que a juventude ingresse no mercado de trabalho com menos de 25 anos de idade. O que não ode é o filho do rico ser beneficiado pela possibilidade de estudar até os 25 anos de idade e aí partir para disputar as melhores vagas do mercado de trabalho e as posições nas instituições.
Cabe ao governo atuar e intervir para se igualar as condições do preparo intelectual entre os filhos dos pobres com os filhos dos ricos.
A sociedade deve atentar para estas diferenças e fazer pressão junto ao governo para que se adotem políticas públicas multidisciplinares e que vão ao encontro desta parcela significativa que é a juventude brasileira.
BLOG DA DILMA: E a questão do trabalho no país? Vamos continuar abrindo a mesma quantidade de vagas que foram abertas nestes últimos 4 anos? E no futuro qual será o tipo de trabalho que terá a sociedade?
O fim do trabalho heterônomo é um fato irreversível. A redução da jornada de trabalho é perfeitamente aceitável e viável nos dias atuais. Não existe razão para termos uma jornada de trabalho semanal de 12 horas. O resto do tempo presta para dar vazão à necessidade humana de estudar, participar da vida social e política de nossa comunidade e do país. Relacionarmos de forma mais próxima do crescimento de nossos filhos, a pratica de esporte, serviço social e no aspecto do estudo, defendo que deva ser para a vida toda o processo do aprendizado.
Mas defendo de forma tranqüila a redução da jornada de trabalho e a escola para toda a vida. Dois grandes avanços é um tremendo salto positivo na qualidade de vida da sociedade.
BLOG DA DILMA: Deixa um recado final para as forças progressistas do Brasil que não querem nenhum tipo de retrocesso?
Que arregacem as mangas e gastem solas de sapatos, que abandonem o conforto dos seus lares para uma atividade cívica e em prol da maioria da sociedade brasileira. O Brasil conquistou avanços sociais e econômicos importantes, mas ainda são frágeis e podemos regredir novamente nesta jornada. Não é uma frase de efeito é a realidade. Como destaquei a importância da decisão política e as mudanças que podem gerar efeitos rapidamente na sociedade.
A qualidade de vida numa sociedade como é a do Brasil quando comparada com os países mais avançados. Deixa patente que os avanços de agora têm que aprofundar. O Brasil não pode regredir por causa de uma decisão de ordem política, pois ainda temos muito a caminhar para frente, para sermos uma sociedade com menos desigualdades de oportunidades, renda e riqueza.
Um comentário:
O correspondente do Blog Dilma Presidente que realizou a entrevista com Marcio Pochmann foi o Guilherme Dias.
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