sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Golpe na Anistia e na Cidade de Fortaleza.

Por Luiz Edgard Cartaxo de Arruda Junior. Memorialista.

cartaxoarrudajr@gmail.com

e Fernando Andre Pereira Cartaxo de Arruda.

Sociólogo. fernandocartaxo@uol.com

Analisando a historia do Brasil constatamos decepcionados que somos o último país na América a abolir a escravidão. Há desculpas esfarrapadas: foi assim porque o Brasil é o único reino que se implantou no novo mundo. Se a escravidão era inevitável na colônia era imprescindível no império. É verdade, pra eles. Sabemos nada justifica a escravidão, muito menos essa decantada herança fidalga que corre na fina flor do sangue azul aristocrata europeu dos que conseguiram escapar de Napoleão, fugindo para o Brasil, acometidos já na travessia de enjoou e náuseas que se transformam numa nobre preguiça que até agora alguns ainda acham virtuosa.

O pior é repetirmos hoje vergonhosamente a historia. Uma vez mais o Brasil é o ultimo país das Américas... Só que agora não é mais escravidão, é pior, desta vez é a resistir em fazer justiça e revisar contando a verdade dos anos de chumbos da ditadura civil militar (1964-1985). Querem passar a idéia de continuar na historia a calunia de que eles fizeram a revolução para salvar o Brasil pela lei e pela ordem... Quando na verdade acabaram a lei e a ordem instalando um estado terrorista em lugar de uma legitima democracia, transformando o Brasil numa colônia norte americana.

E é isso que trata também o avanço da versão petista do PNDH Programa Nacional de Direitos Humanos que deixa no chinelo as tentativas tímidas dos programas do presidente Fernando Henrique Cardoso, filho de militar e cheio de falsos pudores, que antes preferia cremar a memória da ditadura, em gesto similar de covardia realizado por Rui Barbosa ao tocar fogo nos documentos que comprovavam a estupidez das elites diante de suas atrocidades contra o povo negro escravizado. Capistrano de Abreu chama isso de crime de lesa identidade pátria. Mesmo assim Rui Barbosa foi proclamado pai da cultura brasileira. Oh tempores, Oh mores.

O novo PNDH Programa Nacional de Direitos Humanos foi debatido de forma democrática e participativa por 30 ministérios e centenas de entidades sociais. A sua legitimidade é indiscutível, o que torna as reações reacionárias, medíocres e insustentáveis. O ministro da Defesa, Nelson Jobim, em ato de pura insensatez, impulsionado pelo espírito da linha dura ainda existente, comete mais um crime inominável e imperdoável: invalida uma decisão presidencial que tem o lastro da vontade soberana da Nação. Não era para menos partindo desse personagem controverso, que na efervescência do processo constituinte foi capaz de falsificar por três vezes a Constituição Federal, para atender interesses antibrasileiros que permite acabar com o patrimônio da União e a interferência financeira externa dentro dos cofres da nação... É réu confesso.

O PNDH debatido é elaborado por mais de um ano dentro do governo e com a sociedade civil, sem a menor critica da parte dos ministros. Quando assinado pelo presidente Lula o ministro da Defesa comanda ataque ao programa assinando pedido de renuncia coletiva junto com ministros militares. Num ano eleitoral. Em mais um claro gesto golpista como vem se notabilizando em suas articulações e interferências políticas. Porque não pediram vista do programa? Antes da sanção presidencial? Tiveram um ano para fazê-lo! Porque não deixam para discutir com o Congresso que é a ultima instancia? Há algo de podre além dos aviões virtuais (os que ele quer no lugar dos caças franceses) nos ceus dessa Dinamarca.

Quando queremos localizar desaparecidos, eles nos chama de revanchistas! Mentir assim é mais que covardia. Querem confundir amnésia com anistia e esta com absolvição e perdão a torturador. O que é imprescritível, pois abominável. E dizem que nos estamos querendo acabar com a liberdade de expressão! !!! Estão ganhando em muitas frentes. Fazer o presidente retirar duas palavras do programa e assinar de novo. É uma forma de tentar desmoralizá-lo ou não? Quem viver vera, rir melhor, quem rir por ultimo. Nelson Jobim continua impune e articulando novos golpes como no caso dos caças virtuais, descaradamente dentro do Ministério da Defesa exoticamente fantasiado de Marechal de Campo camuflado. Só encaminhou agora a exoneração do general Rosa( o que disse que a Comissão da Verdade é Comissão da Calunia) porque o chefe do general sugeriu.

O 3° Pndh, esta sofrendo golpe baixo, querem que engulamos a injustificável absolvição e perdão a torturadores. O conceito internacional e pacificador de justiça condena atos de tortura em todas as cortes que o Brasil é signatário. Inventam moda afrontando conquistas civilizatórias e desmoralizando a imagem de estadista do presidente Lula! Logo pelas mãos de um ministro de passado duvidoso e futuro incerto. Os seus rompantes beiram mais ao estilo tucano e sua postura é indisfarçávelmente autoritária. Ele faz parte das contradições inexplicáveis do governo petista, que vive amarguras por manter uma coalizão de partidos e pessoas inconsistentes. Não agüentamos a banda podre do PMDB. Há um verdadeiro projeto de esquerda para o país e não vamos deixar que ele se disperse.

É bom lembrar processos democráticos para servir de exemplo: nossos patrícios portugueses na revolução dos Cravos no dia 25 de março de 1974 tiraram da maior ponte da Europa o nome de Ponte Salazar e colocaram Ponte 25 de março, muitas estatuas publicas de Oliveira Salazar foram degoladas, sumiram... O povo português não demorou em limpar as marcas do Salazarismo de sua terra. Já em Espanha eram 956 referencias ao Franquismo que só a 2 anos teve a ultima estatua de Francisco Franco sobre um Cavalo removida da praça do colégio militar de sua cidade natal para um Museu. Nem na Itália nem na Alemanha existe sequer um beco, uma travessa com o nome de Adolf Hitler ou Benito Mussolini, Na Europa a memória dos ditadores é preservada em museus privados e residências particulares. Nos logradouros, vias e equipamentos públicos, jamais.

Já fazem isso na Argentina, Chile, Paraguai, Uruguai... colocando os ditadores no devido lugar: cadeia e o limbo da historia, tirando das ruas, avenidas e praças suas estatuas e nomes.

‘Por outro lado aqui acontecem paradoxos para usar uma palavra educada. A nossa subnutrição com as lições da história nos deixa sucumbidos nas cloacas da idade média. É triste perceber que a nossa Fortaleza Bela ainda seja um canteiro arcaico de referencias a ditadores e torturadores. Nas principais avenidas. E logo na cidade mais vermelha do Brasil. “Luz mais Luz” terminou dizendo Goethe, aqui é a terra da Luz primeiro porque foi a capital de província e o primeiro porto a libertar os escravos debaixo da linda do equador, e sem pecado. Hoje em Fortaleza o litoral e seu delineamento urbano reverenciam ditadores!

Aqui a poluição histórica nas avenidas é mais fétida que os monturos de

lixo, cega mais que as placas que encobrem as faixadas de nossa arquitetura histórica e é mais ensurdecedora que o barulho neurótico de carros de som e bares.

E pode piorar, por incrível que pareça, uma memória ainda não revelada na historia pode vir a ser destruída, por um terremoto da insensatez. As clandestinas salas de torturas dos horrores da ditadura, que foram resgatadas e preservada pela garra e coragem de um homem de fibra e coerência da latitude de Cláudio Pereira, ainda quando presidia a Fundação Cultural de Fortaleza, que tombou e denominou-a de Centro Cívico Wanda Sidou. Este espaço está incrustado no interior do território do Palácio do Bispo, na outra margem do Riacho Pajeu correndo serio risco de se transformar em um vazio histórico e acabar com memória ainda desconhecida pelo povo, desvirtuada, transmutada hoje em deposito de latas, vassouras, moveis e aparelhos quebradas... Uma das grades do cárcere já sumiu. Preservar essa memória limpa e real é dos maiores patrimônios que a história deve resgatar. Essa peça do Museu de Horrores da ditadura civil militar é até agora a única no Ceará, repito pode ser destruído com a transferência do paço municipal para o Palácio do Bispo é preciso mobilizar a consciência cidadã fortalezense. Não é paranóia vejam os indícios, surge de repente em Fortaleza a Avenida Presidente assim mesmo por extenso Avenida Presidente Costa e Silva que esta ocupando a chamada pelo povo, imprensa, taxistas, catálogos, linhas de ônibus... de Avenida Perimetral, profetizei isso em artigo publicado neste blog.

http://dilma13.blogspot.com/2009/11/designacoes-indevidas.html

Se a consciência que administra a atual gestão de Fortaleza soube-se o quanto sofre o juízo do cidadão esclarecido em cada esquina quando vê a placa novinha de rua com o nome desses proclamados “Presidentes” que nunca tiveram o voto do povo e não passaram na verdade de reles ditadores de um estado terrorista que depôs governo democratamente eleito. Os que foram torturados e perseguidos pela ditadura sofrem mais ainda. Por isso a diretriz nº 25 do novo PNDH propõe a exclusão dos nomes deles das vias logradouros e equipamentos públicos do Brasil. Em São Paulo existe movimento para denominar a Rodovia Castelo Branco de Rodovia João Goulart. Aqui em Fortaleza a administração da prefeitura faz o contrario. Isso tem que parar. O

ônibus da linha Leste Oeste sumiu! O que surge em seu lugar é a Avenida Presidente Castelo Branco que já ocupa o nome da Rua Coronel Franco Rabelo nome que resiste no cotidiano e memória dos moradores nativos da rua. E pasmem Franco Rabelo é o homem que junto com o povo cearense destronou a tirânica Oligarquia Acioly da província do Ceará 1912 numa guerra civil urbana que durou três dias com a vitoria do povo que destruiu os jardins e queimou o Palácio do Governo, isso quatro anos antes da revolução russa de 1917 eclodir depondo o Kzar... É desde aí que essa terra passa de ser além da terra da luz para o sol vermelho da luta pela liberdade que desemboca na estrela do PT.

O Centro Social Urbano Pres. Medici que a primeira prefeita do PT no Brasil 1986 Maria Luiza Fontenele só deixava chamar: Centro Social Urbano da Avenida Borges de Melo( a Administração popular do primeiro governo petista do Brasil se recusou simplesmente a imprimir no timbre da Prefeitura de Fortaleza o nome: Presidente Médici ) Foi rebatizado agora com o nome pintado num muro externo de um equipamento publico do município de Fortaleza pela atual administração de Centro de Cidadania Pres. Medici em cintilantes letras vermelhas. O ditador general Medici deve estar se retorcendo todo nas entranhas da terra provocando terremotos e tsunamis com essa nova denominação junto ao seu nome. E a cidadania morre de vergonha com essa absurda falta de lucidez política e histórica.

O Centro Cívico Wanda Sidou desfalcado e desfigurado corre o risco de desaparecer. A Rua Coronel Franco Rabelo e a Av. Leste Oeste viraram Av. Presidente Castelo Branco. O CSU da Av. Borges de Melo vira Centro de Cidadania Pres. Medici. A Av. Perimetral vira Avenida Presidente Costa e Silva. Se deixar continuar na seqüência a Via Expresso vai virar Avenida Almirante Henrique Sabóia. E vai surgir o Parque Presidente Ernesto Geisel. Sinceramente o PT não merece isso, muito menos a cidade e o povo de Fortaleza.

Um comentário:

Unknown disse...

Parabéns, por obra de temática profunda, isenta e contundente, que desnuda a face mediocre da elite brasileira que "negocia" e contemporiza com direitos inalienáveis e indisponíveis. O resgate histórico, de matiz sociológico, revela a hipócrisia da elite fascista que pretende manter impune aqueles que cometeram crimes contra a humanidade!
Um abraço aos primos,
Alfredo Marques