quarta-feira, 9 de junho de 2010

Evangélicos, as igrejas e a mídia

*por Fernando Rizzolo


Chovia muito e a estrada de terra escorregadia fazia o carro deslizar como que se estivesse sobre uma fina manta de gelo. De longe avistei Reinaldo, um rapaz pobre, agricultor, alcoólatra, que com a camisa ensopada pela água da chuva, tentava esquivar-se dos pingos segurando com firmeza sua Bíblia. Ao me aproximar parei e lhe ofereci uma carona. Meio sem jeito, agradeceu com um olhar desarmado e me disse que voltava do culto evangélico. Tinha, enfim, tornado-se “crente” e afirmou isso com certo orgulho, patente no seu gesto determinado e temente a Deus.

Ao chegar em sua casa agradeceu-me e convidou-me para um dia conhecer sua igreja, mesmo sabendo que não sou cristão. Aquele simples trajeto em meio a uma chuva fina, me fez refletir sobre as transformações espirituais que toda religião induz nas pessoas, pois de forma nobre afloram da alma as melhores intenções do ser humano. Reinaldo é um dos 26 milhões de evangélicos do Brasil, segundo censo de 2000, número que que com certeza, nos dias de hoje, deve ter-se elevado consideravelmente.

Não poderíamos deixar de reconhecer que as igrejas evangélicas, independentemente de seus segmentos, contribuem de forma decisiva para a formação da ética, da moral, dos bons costumes, preenchendo uma lacuna e um espaço fértil onde a desesperança, a miséria e a desventura prosperam face à fragilidade sócio-econômica e à falta de oportunidade que ainda persistem no nosso meio, conduzindo os jovens à criminalidade, ao vício e à desintegração familiar.

As várias denúncias elencadas nos últimos anos em relação aos líderes de igrejas evangélicas nos assustam e certamente, cabe ao Judiciário, como já o fez inúmeras vezes, apurar os fatos baseando-se no princípio de isenção religiosa, como é sua marca no Brasil. Contudo, nos parece pertinente uma reflexão sobre o papel da imprensa em relação a essa questão que envolve, de certa forma, essa grande parcela da sociedade brasileira, pois desta feita, quem está sendo julgado são seus líderes religiosos.

Com efeito – e me abstendo da questão criminal em si ajuizada – cabe ao provimento jurisdicional julgar. Maso que se observa é que existe nos meios de comunicação uma insinuação velada de que ser evangélico no Brasil é sinônimo de estar sendo enganado, ao mesmo tempo que, pouco se demonstra ou valoriza, os atos dos fiéis, a mudança em suas vidas, a fé despertada, a vida reconstruída. Tudo mais é enaltecido: os maus atos dos líderes e a improbidade religiosa, o que por consequência, desqualifica o espírito evangélico renovador, coisa que não deveria acontecer. Nos EUA os evangélicos são responsáveis pelas maiores doações a Israel e no Brasil, observa-se que a simpatia dos evangélicos pelo povo judeu faz com que as diferenças religiosas sejam superadas através do entendimento pela paz e da busca quanto à harmonia das idéias.

Não seria justo que o lado bom de qualquer religião fosse ofuscado pela postura dos líderes, mas assim como é necessário denunciar as improbidades, também é dever da imprensa reconhecer e dar espaço às boas coisas, prestigiando aqueles que como Reinaldo, através da religião, tiveram o firme propósito de renascer com a sua fé, de superarem-se através do amor que nutrem por Deus e com orgulho, dirigem um olhar sereno segurando uma Bíblia, quando dizem: “ – Eu mudei, sou evangélico, estou renascendo. Deus te abençoe.”


Fernando Rizzolo é advogado, pós-graduado em Direito Processual, mestrando em Direito Constitucional, Prof. do Curso de Pós Graduação em Direito da Universidade Paulista (UNIP). Participa como coordenador da Comissão de Direitos e Prerrogativas da Ordem dos Advogados do Brasil, Secção São Paulo, é membro efetivo da Comissão de Direito Humanos da OAB/SP, foi articulista colaborador da Agência Estado, e editor do Blog do Rizzolo - www.blogdorizzolo.com.br

2 comentários:

claudio principe dos poetas,um poeta em ação disse...

Concordo, e eu sendo evangelico, vejo que a midia, emgeral,pune, sem olhar para o proprio telhado de vidro, se formos,condenar um povo, pelo ato de orientador, teriamos que considerar nos dias de hoje, todo catolico pedofilo tambem, todo espirita trambiqueiro e charlatão, então não vejo mais a razão para essa perceguição. a não ser medo, medo pois o povo evangelico deixa pela fé, de assistir novelas, deixa os vicios,deixa a loucura de consumir e consumir,deixa a procura promiscua,a traição, deixa tudo que está escrito na biblia que é errado, e os que levam a juventude e a população justamente para o caminho errado,teme perder isso, por isto vejo com tristeza isto, um prefeito que fecha uma igreja,não fecha um lugar qualquer, ele na verdade está impedindo a palavra de DEUS, de salvar alguem ,de um crime,de um suicidio,de um vicio,se forem 10 milhoes, de evangelicos em caminhada, dirão 10 mil, se forem 1 mil, de outra religião dirão 1 bilhão, isso é medo, mas, o povo de Deus cresce, e pesso a nossa DILMA, que observe mais um pouco a nós, somos aqueles que votam pelo coração,na certeza que DEUS como fez com o LULA, nos dará o melhor, e sabemos que ela ,mulher,mãe, será o melhor,não é justo, por ex. uma determinada igreja não pagar impostos ,iptu, enquanto outras pagam,uma, receber de doações terrenos,para suas igrejas, enquanto outras não,sejamos justos, se um tem dever,o outro tambem,de igual forma e valor. No mais concordo com o que foi dito, abraços.

blog do edribeiro disse...

É assim mesmo que funciona, "Senhor advogado", DEUS o atingiu com seu amor e o senhor enxergou o "seu servo" em formaão.

Este pode ter sido o seu mais importante encontro, apesar de todas as qualificações humanas que o senhor possui.