Agricultor do Brasil poderá usar por 50 anos área equivalente a 'três Sergipes', pagando R$ 21 por hectare ao ano. País africano mira expertise brasileira no cerrado, região similar; 40 brasileiros visitarão as áreas em setembro
PATRÍCIA CAMPOS MELLO- DE SÃO PAULO - O governo de Moçambique está oferecendo uma área de 6 milhões de hectares -equivalente a três Sergipes- para que agricultores brasileiros plantem soja, algodão e milho no norte do país. A primeira leva de 40 agricultores parte de Mato Grosso rumo a Moçambique -a próxima fronteira agrícola do Brasil- no mês que vem. As terras são oferecidas em regime de concessão -os brasileiros podem usá-las por 50 anos, renováveis por outros 50, mediante um imposto módico de 37,50 meticais (R$ 21) por hectare, por ano. "Moçambique é um Mato Grosso no meio da África, com terra de graça, sem tanto impedimento ambiental e frete muito mais barato para a China", diz Carlos Ernesto Augustin, presidente da Associação Mato-Grossense dos Produtores de Algodão (Ampa). "Hoje, além de a terra ser caríssima em Mato Grosso, é impossível obter licença de desmate e limpeza de área."
Augustin organizou a missão de agricultores para ir ao país em setembro ver as terras. Um consultor da Ampa já está no país contatando autoridades e preparando a viagem. "Quem vai tomar conta da África? Chinês, europeu ou americano? O brasileiro, que tem conhecimento do cerrado", diz Augustin.
"Os agricultores brasileiros têm experiência acumulada que é muito bem-vinda. Queremos repetir em Moçambique o que eles fizeram no cerrado 30 anos atrás", afirma o ministro da Agricultura de Moçambique, José Pacheco. "A grande condição para os agricultores é ter disposição de investir em terras moçambicanas", diz Pacheco. É preciso empregar 90% de mão de obra moçambicana.
CONCESSÃOA terra em Moçambique é propriedade do Estado e pode ser usada em regime de concessão, que está aberto a estrangeiros. O governo busca agricultores brasileiros por causa da experiência no cerrado, que tem características climáticas e de solo muito semelhantes à área oferecida.
As terras oferecidas aos brasileiros estão em quatro províncias da região Norte:
Niassa, Cabo Delgado, Nampula e Zambézia. A região é superior a toda área cultivada de cana-de-açúcar no Estado de São Paulo (cerca de 5 milhões de hectares).
Os produtores vão a reboque da Embrapa, que mantém na área o projeto Pro-Savana, com a Agência Brasileira de Cooperação e a Jica (Agência de Cooperação Internacional do Japão).
O projeto de cooperação técnica em Moçambique é o maior da Embrapa fora do Brasil -terá 15 pessoas a partir de outubro. Em duas estações no norte do país, eles estão testando sementes de algodão, soja, milho, sorgo, feijão do cerrado brasileiro, para adaptá-las ao norte moçambicano.
"Nessa região, metade da área é povoada por pequenos agricultores, mas a outra metade é despovoada, como existia no oeste da Bahia e em Mato Grosso nos anos 80", diz Francisco Basílio, chefe da Secretaria de Relações Internacionais da Embrapa.
O governo vai dar isenção fiscal para importar equipamentos agrícolas.
3 comentários:
Na ja ! näo fico empolgada com esta notícia näo. Vejo como exploracäo do povo de Mocambique. Väo lá explora a terra, paga bem baratinho, "nossos" fazendeiros enriquecem e o povo fica a ver navio. Sinto muito mas vejo desta forma. Isto já acontece em alguns países da àsia, fazendeiros de países ricos compra as terras e vai expulsando a populacäo da regiäo.
salve o professor Agostinho Neto !!!
"Companheiros", vocês já moraram em Moçambique? Já tentaram ajudar a agricultura de lá? Eu já. A zona rural do país, onde mora a maior parte da população, não é só paupérrima, é famélica. Lá predomina a agricultura "de subsistência" (entre aspas porque os agricultures não subsistem), com produtividade ínfima, que mal permite aos moradores do campo comer o suficiente para sobreviver (isso, claro, se o clima ajudar - nos anos ruins, passam fome mesmo). Todo mundo que visita o país vê na hora que Moçambique têm um potencial agrícola enorme, que está desperdiçando com um regime de propriedade da terra estrangulador (remanescente do comunismo), que só mantém a população na fome. Vocês preferem ver os africanos viverem famélicos a vê-los "explorados pelo capitalismo". Para revolucionário, pobres e miseráveis são só bucha de canhão na disputa política, mesmo. Sobre a "expulsão do campo", alguém que critica o trabalho massacrante nas fábricas de roupas na Ásia já conversou com um ex-camponês da China ou do Vietnã, e pediu para comparar as condições no campo e na fábrica, para que ELE lhe diga qual prefere?
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