quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

Futebol e Nós

Autor: Littbarski - O Controle Remoto: E mais uma vez aqui estamos, nesses últimos dias do ano de 2013, para mais uma coluna semanal da semana. E depois de alguns escritos estranhos e doidinhos, decidi abrir um espaço para falar de algo sério e que deve ser discutido nesse Brasil viril, varonil e senil. Primeiro, devo dizer que apesar de meu gelado sangue europeu, curto muito a malemolência do futebol brasileiro e fiquei triste, quase em estado de depressão pelo que aconteceu na última rodada do Campeonato Brasileiro. Não vou falar do jogo, nem que horas, muito menos onde foi, porque aqui não é Controle Remoto Esporte Clube, então vamos ao que interessa: rolou porradaria entre as torcidas, com pessoas feridas e em estado grave.
Assim, a imprensa trata o fim de campeonato brasileiro com o sentimento de que se precisa melhorar o policiamento nos estádios e em uma procura imensa de culpados pelo que aconteceu. Uns falam em extinção das torcidas organizadas, outros em cumprimento de leis que já existem ou punição para os responsáveis pelos atos dignos de um filme do Tarantino.
Vagabundos, vândalos, marginais, assim são tachados as pessoas que participam das Torcidas Organizadas. Grupos que deveriam servir para organizar uma festa nos estádios, mas que se dedicam aos confrontos com os rivais. Mas, o problema é algo existente apenas nesses grupos? É algo pertencente exclusivamente ao futebol? O que muitos não enxergam é que isso é um problema estrutural. Sinto dizer, mas o que acontece dentro das torcidas, é apenas um reflexo da sociedade doente que é a brasileira, onde os índices de assaltos, homicídios, mortes no trânsito e desrespeito às leis mais básicas do mundo estão lá no alto.
Estão dizendo que tudo aconteceu porque não tinha policiamento no estádio. Mas e se tivesse? A diferença seria apenas uma: no lugar de acontecer dentro das arquibancadas, o conflito teria acontecido nas ruas. A questão é que a maioria dos envolvidos são pessoas sem perspectivas, que encontram dentro de um grupo organizado, a oportunidade de ganhar relevância, por mais que seja por meios negativos. Muitos são jovens, alguns menores de idade, moradores de periferia, onde a atuação do governo inexiste. Não estou querendo defender a ideia de que se você nasce e vive em um meio hostil, você será hostil, mas óbvio que isso contribui e basta ser um pouco atento para perceber. Muito menos estou a favor dos que praticam tais ações, pondo toda a culpa nos órgãos públicos.
Como disse antes, a situação passa por uma educação abaixo do nível da merda, fiscalização e presença frouxas por parte do Estado, um sistema carcerário que é capaz de transformar um ladrão de galinha em um chefe do tráfico, sem nenhum caráter de reabilitação do condenado, dentre vários outros problemas que exigiriam umas cinquenta colunas para enumerar.
Não posso exigir que as torcidas sejam pacíficas, quando a sociedade em que vivo é uma doença. O futebol está inserido e é formado por ela, não está isolado dentro de uma redoma. E, antes de criticar de forma cega a violência nos estádios vamos fazer uma autocrítica, do meio em que vivemos e de nós mesmos. Quando furo uma fila, quando avanço um sinal ou empurro alguém na parada de ônibus, não estou sendo menos violento do que os sujeitos brigões das organizadas. E falo das coisas mais simples, pra vermos o quanto a situação tá feia.
E aqui, reafirmo, não estou na defesa dos torcedores, mas apontar o dedo quando o erro também faz parte de nós e de nossas autoridades públicas não é a atitude correta. Aqui deixo dois trechos de um poema chamado “Poema em Linha Reta” de Fernando Pessoa, quem puder ler e olhar pra si mesmo faz bem.
“Nunca conheci quem tivesse levado porrada. Todos os meus conhecidos tem sido campeões em tudo.
Quem me dera ouvir de alguém a voz humana, que confessasse não um pecado, mas uma infâmia. Que contasse não uma violência, mas uma covardia…”
Visite o blog O Controle Remoto: http://www.ocontroleremoto.com/

Nenhum comentário: